Folha de S. Paulo


Apuração da Cesp sobre uso de carro ignora testemunhas

Felix Lima - 27.ago.2016/Folhapress
Marcio Rea, diretor de Abastecimento da Cesp (Companhia Energetica de Sao Paulo), deixa academia na Bela Vista as 20h15 do dia 27 de agosto de 2016. Credito:Felix Lima/Folhapress
Marcio Rea, diretor de Abastecimento da Cesp (Companhia Energética de São Paulo)

Depois de mais de 30 dias de investigação, a comissão da sindicância da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) que apura irregularidades no uso de carros por funcionários da estatal não ouviu as principais testemunhas do caso.

A investigação foi iniciada após reportagem da Folha que denunciou que o diretor de Abastecimento da companhia, Marcio Rea, usou carros e motoristas pagos pela estatal para ir a reuniões no escritório político do candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, João Doria, durante o expediente.

Os carros também foram usados para fins particulares de Rea e de membros da sua família.

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A Cesp, na ocasião da reportagem, divulgou nota dizendo que havia instaurado uma sindicância para apurar o ocorrido. O prazo final dos trabalhos da comissão era de 30 dias.

Desde o dia 14 deste mês, quando o prazo da sindicância acabou, a Folha tenta sem sucesso saber detalhes da investigação.

No dia 19, a assessoria de imprensa da Cesp enviou uma nota dizendo que "convocou os empregados citados para prestarem esclarecimentos. A apuração interna prossegue, sendo que o sr. Márcio Rea já ressarciu a empresa em R$ 1.629,03".

A Folha questionou a Cesp sobre o novo prazo de conclusão da sindicância, mas não obteve resposta.

A Cesp também não informou qual cálculo levou ao valor de R$ 1.629,03 pago por Rea. Ele continua trabalhando normalmente.

A Folha apurou que passado mais de um mês da denúncia, a sindicância não ouviu os motoristas que serviam Rea e a família, principais testemunhas do caso.

Ninguém da campanha de Doria foi procurado para falar sobre a participação de Rea nas reuniões no escritório político do candidato em horário de expediente.

A Rentauto, empresa que alugou os carros para a Cesp, também não foi procurada para fornecer informações à sindicância.

Procurado, o governo do Estado de São Paulo, dono de 40% das ações e controlador da companhia, não quis se manifestar.

Por meio da assessoria de imprensa, disse que "essa demanda deve ser encaminhada a Cesp, que é uma empresa independente do Estado".

A reportagem da Folha foi anexada como prova no processo do Ministério Público Eleitoral que investiga se a campanha de João Doria tem sido beneficiada pelo uso da máquina administrativa do Estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin, seu correligionário no PSDB e principal apoiador.

A assessoria de Doria diz que "ninguém foi chamado (pela Cesp) a prestar qualquer esclarecimento" e acrescentou que a campanha nada tem a ver com o caso.

"O diretor da Cesp não tem, como já foi dito, qualquer relação com a campanha", diz a assessoria do candidato.

O diretor de Operações da Rentauto, Vander Coletta, disse que a empresa não foi procurada pela Cesp para fornecer qualquer informação referente à sindicância.


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