Folha de S. Paulo


Polêmica que envolve delação premiada agita política de Roraima

Eduardo Knapp/Folhapress
Boa Vista, Roraima, Brasil, 09-12-2015 14h58: Estado de Roirama ira receber energia eletrica provida do Brasil e nao mais da Venezuela, afirma gorvernadora do Roraima, Suely Campos, PP, apos encontro com a Presidenta Dilma na capital Boa Vista. Obra devera estar pronta em menos de 3 anos segundo a Governadora (Foto Eduardo Knapp/Folhapress.PODER e COTIDIANO). Cod do Fotografo: 0716
A governadora do Estado de Roraima, Sueli Campos, do PP

Uma das principais ferramentas na Operação Lava Jato, o instituto da delação premiada está no centro de uma controvérsia que movimenta a política de Roraima, com trocas de acusações sobre supostas tentativas de coação de presos para acusar um grupo de parlamentares adversários do governo do Estado.

O assunto veio à tona a partir de denúncias feitas pela advogada Mônica Pierce Amorim Cseke, tanto em Boa Vista (RR) quanto em Brasília, onde circulou por órgãos públicos como a Polícia Federal para entregar documentos e uma gravação.

Na última segunda-feira (5), poucos dias após as conversas com autoridades federais e também com a Folha, Cseke morreu em um hospital de Brasília.

Segundo a OAB do Distrito Federal, ela teve complicações de uma cirurgia para retirada de cálculo renal. Tinha 33 anos e estava grávida de quatro meses –o bebê também não sobreviveu.

Cseke era advogada de vários presos na Operação Cartas Marcadas, desencadeada em 15 de junho pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de Roraima para investigar um grupo de empresários e servidores da Assembleia Legislativa do Estado acusados de mascarar desvios de recursos públicos e lavagem.

No começo de agosto, uma das clientes de Cseke, Verona Sampaio Lima, ex-coordenadora de licitações da Assembleia, escreveu uma carta na qual dizia estar sofrendo coação e ameaça para que fizesse delação premiada.

Segundo Lima, que estava presa, a pressão ocorria para incriminar, com "alegações inverídicas, infundadas e caluniosas", um grupo de deputados estaduais e o presidente da Assembleia, Jalser Renier (SD). Renier é adversário político da governadora Suely Campos (PP).

A sugestão da delação, de acordo com a carta de Lima, partiu de dois advogados: Frederico Leite –defensor de Neudo Campos, marido da governadora– e Ângelo Peccini Neto, diretor da Secretaria de Articulação Municipal do Estado de Roraima.

Além da carta, Lima entregou a Cseke uma gravação de duas horas feita na noite de 19 de julho no interior do Comando de Policiamento da Polícia Militar de Boa Vista, onde estava presa com outras duas pessoas.

No encontro, Leite e Peccini Neto, que aparentemente não sabiam da gravação, aparecem falando sobre uma possível delação.

Uma voz diz: "Seleciona duas ou três pessoas aí que vocês podem denunciar, que vocês têm interesse em denunciar. E outra, até constrói isso aí. Às vezes uma mentira bem contada, desde que você ofereça uma verdade muito forte..."

À Folha os advogados negaram qualquer irregularidade. Disseram que Lima e outros dois presos é que estavam propensos a fazer uma delação e pediram que eles comparecessem ao prédio da PM para falar sobre as possibilidades jurídicas do caso.

"Grande parte do que se alegou, do que a advogada alegou, não é verdade e está sendo apurado pelo Ministério Público, pela OAB", disse Leite. Peccini Neto disse à Folha que os presos se sentiam "coagidos" pela advogada.

Segundo o promotor que coordena o Gaeco, Marco Antônio Azeredo, um advogado ligado a Cseke tentou embaraçar a investigação e constranger investigados.

Indagado sobre a versão de que os presos é que chamaram os advogados ao prédio da PM, o coordenador do Gaeco disse: "Parece que eles [advogados] foram lá em horário inapropriado e não com os melhores propósitos, uma vez que ofereceram vantagem pecuniária a esses presos para que eventualmente firmassem uma delação com o Ministério Público".

O Gaeco também vai buscar informações sobre a morte de Cseke. A Folha não localizou a família dela.

O presidente da Assembleia disse que "integra um grupo de 14 deputados críticos do governo Campos". Ele negou movimento para inibir ou constranger presos.


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