Folha de S. Paulo


Preso na Lava Jato, Guido Mantega foi o mais longevo ministro da Fazenda

Sergio Lima - 04.dez.2014/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 04-12-2014: O ministro da Fazenda, Guido Mantega após discurso e receber o premio da Academia Brasileira de Ciências Contábeis. (Foto: Sergio Lima Folhapress - PODER)
Guido Mantega, após receber prêmio da Academia Brasileira de Ciências Contábeis em 2014

Preso temporariamente na manhã desta quinta (22) na 34ª fase da Lava Jato, intitulada Arquivo X, Guido Mantega foi o ministro que por mais tempo geriu a Fazenda.

A prisão foi revogada pelo juiz Sergio Moro, horas depois.

Mantega nasceu em Gênova, na Itália, em 1949, e foi criado em São Paulo. Graduou-se em economia pela USP, em 1971, onde também concluiu seu doutorado.

O prefácio de seu livro "Acumulação Monopolista e Crise no Brasil", publicado em 1980, foi escrito por Fernando Henrique Cardoso. Durante gestão de Luiza Erundina (1989-1992), foi chamado para ser assessor de Paul Singer na Secretaria de Planejamento.

Com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva no governo federal, Mantega assumiu o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, entre janeiro de 2003 e novembro de 2004. Com a renúncia de Carlos Lessa da presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o então ministro foi transferido para o cargo.

Voltou ao ministério de Lula em março de 2006, substituindo Antônio Palocci na Fazenda. Ocupou o cargo até o fim do primeiro governo de Dilma Rousseff, em 2014, tornando-se o mais longevo ministro da Fazenda.

Após passar por um momento de crescimento econômico que rendeu ao Brasil a capa da revista americana The Economist, em que publicação destacava a "decolagem" na economia brasileira em 2009, Mantega deixou o cargo com números desfavoráveis. Foi substituído por Joaquim Levy, considerado mais próximo do mercado.

Em fevereiro de 2015, em visita a um amigo no hospital Albert Einstein, em São Paulo, o ex-ministro foi hostilizado por presentes, que gritaram que ele deveria ir "para o SUS" e "para Cuba". Mantega amenizou o ocorrido, dizendo se tratarem de "manifestações isoladas".

INVESTIGAÇÕES

Em novembro de 2015, o juiz responsável pela condução dos inquéritos da Operação Zelotes, determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de cerca de 30 empresas e pessoas, entre as quais Guido Mantega. A ação era uma tentativa de descobrir se as nomeações de conselheiros do Carf, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, feitas pelo então ministro sofreram interferência ilegal, que poderia ser detectada a partir do mapeamento de transações financeiras de Mantega.

Meses depois, em maio, em relato a procuradores da Lava Jato, Marcelo Odebrecht declarou que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e Guido Mantega eram os responsáveis por cobrar doações para a campanha de Dilma Rousseff em 2014.

Segundo o empreiteiro, Coutinho e Mantega dividiam a tarefa de obter o compromisso de doações entre empresários que tinham financiamento do BNDES para projetos no exterior. À reportagem, ambos afirmaram que "nunca" trataram de doações para campanhas eleitorais.

No mesmo mês, ele foi alvo de condução coercitiva na Zelotes. O objetivo da Justiça Federal era apurar se havia ligação do ex-ministro com empresa que é suspeita de comprar decisões do Carf.

Nesta nova fase da Lava Jato, a polícia tem indícios de que ele atuou diretamente junto à direção de empresas para negociar o repasse de recursos ao PT, a fim de pagar dívidas de campanha.

RESULTADOS

À frente da pasta, Mantega foi a "cara" do desenvolvimento econômico e da queda na taxa de desemprego. A imagem, contudo, desgastou-se pelo forte declínio na economia.

A inflação anual, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), era de 3,4% quando assumiu o cargo e 6,43% quando o deixou. O crescimento anual do PIB (Produto Interno Bruto), de 3,96% em 2006, estava em 0,2% ao fim de seu mandato, com pico de 7,53% em 2010.

Alguns de seus resultados mais expressivos foram a baixa no desemprego, de 9,8% para 4,7% –taxa que figura entre as menores da história do país–, e o aumento no investimento estrangeiro na produção nacional, de US$ 18,8 bilhões para US$ 60 bilhões.

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Confira alguns números da gestão de Guido Mantega:

  • Inflação anual, segundo dados do IPCA

2006: 3,4%
2014: 6,43%

  • Crescimento do PIB

2006: 3,96%
2014: 0,2%

  • Controle fiscal (superávit primário)

2006: 3,2%
2014: 0,4%

  • Balança comercial (exportações menos importações)

2006: US$ 46,5 bi
2014: US$ 0,1 bi

  • Taxa de desemprego

2006: 9,8%
2014: 4,7%

  • Investimentos estrangeiros na produção

2006: US$ 18,8 bi
2014: US$ 60 bi

  • Dívida pública, em relação ao PIB

2006: 65,7%
2014: 65,0%

Editoria de Arte/Folhapress
Guido Mantega
Os resultados de Guido Mantega à frente da Fazenda

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