Folha de S. Paulo


Análise

Câmara fez tentativa vergonhosa de anistiar alvos da Lava Jato

Não deu certo. Pelo menos na noite desta segunda-feira (19). Na calada da noite, a Câmara dos Deputados tentou, de forma "envergonhada e vergonhosa", aprovar uma anistia para políticos envolvidos em caixa dois na Operação Lava Jato.

Recuou diante dos protestos de um grupo minoritário, mas barulhento, no plenário da Casa. A maioria foi obrigada a recolher suas armas, mas, com certeza, ainda não desistiu da manobra lançada de última hora para votação.

Nesta terça-feira (20) pela manhã, após a tentativa frustrada de aprovar o acordão para livrar políticos aflitos com as delações do petrolão, gente bem posicionada avaliava a operação salvamento de "envergonhada", porque a proposta era vendida oficialmente no plenário da Câmara como uma forma de criminalizar o caixa dois.

"Vergonhosa" porque o principal objetivo, de lançar a medida para votação de surpresa, era na verdade incluir uma emenda no projeto enviado pelo Ministério Público, que criminaliza o caixa dois, para anistiar esse tipo de crime que tenha sido cometido anteriormente.

Em outras palavras, num passe de mágica, todos políticos que teriam recebido grana de caixa dois das empresas envolvidas na Operação Lava Jato poderiam ficar livres de punições. Algo um tanto polêmico, porque hoje já existem previsões legais para enquadrar penalmente quem pratica e recebe grana de caixa dois.

Mas como ninguém viu a emenda fantasma, cuja autoria ninguém até agora assumiu, é impossível saber exatamente o seu alcance. Todos sabiam que ela estava pronta para ser votada, mas o texto não foi distribuído para análise até a rebelião vinda de partidos de esquerda.

O fato é que a operação era patrocinada pelos principais partidos da Câmara. PMDB, PSDB, DEM, PP e outras siglas tentavam vender, após a sessão frustrada, que a ideia era votar imediatamente a proposta enviada pelo Ministério Público contida na lista dos dez projetos que visam combater a corrupção.

Buscavam revestir a manobra de um figurino de moralidade, quando, na prática, a intenção era outra. De anistiar a turma da política da prática de caixa dois, pelo menos daqueles atos praticados até que a nova lei fosse aprovada.

Mais estranho ainda foi o dia escolhido para a tentativa, quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estava fora da Casa, no lugar de Michel Temer como presidente interino do país. Projeto como este não costuma ser lançado de surpresa sem o conhecimento de quem manda na pauta da Casa.

A surpresa, na verdade, era para a minoria que conseguiu suspender a votação. A maioria apostava em votar o projeto quando as atenções não estavam concentradas no Legislativo. Já vimos este filme antes. E ele, com certeza, tentará ser rodado de novo no plenário.


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