Folha de S. Paulo


Cunha diz que apoio do governo Temer a Rodrigo Maia ajudou cassação

Pedro Ladeira/Folhapress
Eduardo Cunha durante sua defesa na Câmara
Eduardo Cunha durante sua defesa na Câmara

Minutos após ter seu mandato cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados, o agora ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) atribuiu sua derrocada a uma atuação direta do governo de Michel Temer quando ele patrocinou a candidatura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara com o apoio do PT.

"Eu sou um ser humano que já admitiu que cometeu muitos erros mas não foram eles que me levaram à cassação. O que está levando à minha cassação é a política. Eu fui vítima de uma vingança política em meio ao processo eleitoral", disse.

"Culpo o governo hoje não porque ele tenha feito nada para me cassar mas quando ele patrocinou a candidatura do presidente que se elegeu [Rodrigo Maia], em acordo com o PT, o governo de certa forma aderiu a agenda da minha cassação", completou.

Cunha atribuiu sua derrota também a TV Globo, a quem acusou de ter feito uma "campanha de perseguição para que os deputados estivessem presentes". "É muito dificil aguentar um ano inteiro como eu aguentei. Eu diria que é um conjunto político em processo de vingança", disse. "Foi um binômio governo e Globo associado ao PT. É engraçado mas é verdade".

Para Cunha, o abandono de seus aliados na reta final do processo mostra "a hipocrisia" dos deputados que o apoiaram até que sua situação ficasse praticamente irreversível.

O agora ex-deputado também culpou Maia por ter marcado a votação de seu processo em uma data posterior ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e ainda em meio à campanha eleitoral municipal. Para ele, se a votação tivesse acontecido após o pleito eleitoral, o resultado teria sido diferente.

Cunha acusou o presidente da Câmara de ter descumprido o regimento da Casa e afirmou que irá recorrer da decisão mas já em sua fala mostrou certa descrença de que consiga reverter o resultado porque, disse, o STF (Supremo Tribunal Federal) poderá alegar que a questão é interna ao Legislativo.

O peemedebista voltou a negar que fará delação premiada e disse que teme apenas a Deus. "Vou me defender. Eu me sinto inocente e como inocente eu vou me defender. O ônus da prova é de quem acusa", disse. Cunha disse ainda não ter medo de ser preso.

Como a Folha mostrou nesta segunda, Cunha irá escrever um livro contando a sua versão sobre o processo de impeachment. Após a sessão, o peemedebista afirmou que irá relatar na obra todas as conversas que teve mas garantiu não ter gravado ninguém. Questionado sobre se o anúncio sobre o livro seria uma ameaça a seus adversários e até a seus aliados, ele afirmou que não faz "ameaça velada". "Vou contar os fatos. A sociedade merece conhecer todos os detalhes".

Perguntado sobre o que fará agora que não tem mais mandato parlamentar, Cunha respondeu que vai "pensar no que fazer" e que vai "procurar uma editora em que possa ter uma boa renda com a venda do livro".


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