Folha de S. Paulo


Revista 'The Economist' muda tom pessimista após saída de Dilma

A capa da revista britânica "The Economist" havia defendido, em março, o que se consolidou nesta semana. Era hora de Dilma Rousseff partir, dizia, criticando seu governo e a chamando de "inepta".

Nesta quinta (1º), um dia depois do impeachment, a publicação oficializou uma mudança de tom em sua cobertura relacionada ao Brasil: Esta é a "hora de Temer", diz o título da reportagem sobre o novo presidente.

A mudança de governo, e as alterações da política econômica sempre afetam a cobertura que a revista faz sobre o Brasil, segundo a pesquisa de doutorado da socióloga Camila Maria Risso Sales, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Seu estudo revela que a "Economist" alterna historicamente sua cobertura sobre o Brasil em momentos entusiasmo e de decepção dependendo do rumo tomado pela política econômica adotada pelo governo brasileiro.

Isso explica as famosas capas em que o Cristo Redentor decolava, e a seguinte, em que ele perdia o rumo.

Em entrevista à Folha, Sales disse que, a partir disso, é possível ver semelhanças entre a cobertura da revista nos dias de hoje e na época do golpe militar, em 1964, por exemplo.

Nos dois casos fica clara a defesa de uma mudança na política econômica. "Há uma tendência a uma visão mais positiva quanto às políticas que seriam implementadas pelo novo governo", explica.

Quase como comprovação de sua tese, depois do afastamento de Dilma, a revista publicou, em junho, um artigo em que defendia que o governo Temer abria espaço para que o país recuperar a economia.

"A visão da Economist é mais positiva sobre o Brasil se a política econômica do país se aproxima mais do viés liberal", disse Sales.

Ela ressalta que, como "a revista é sobre economia, é natural que ela dê mais ênfase aos aspectos econômicos". Mas alega que saber desse viés ajuda a avaliar de forma mais crítica sua cobertura.

Segundo ela, a revista se importa com estabilidade e o livre mercado, e houve momentos durante a ditadura em que isso foi priorizado no lugar da democracia.

Isso mudou desde então, segundo a socióloga. "Não é possível dizer que os valores democráticos sejam hoje secundários para a revista", explicou. Ela alega, entretanto, que a publicação deu pouca voz à defesa de Dilma.

Apesar da abordagem crítica, Sales admite que a publicação não "inventa" um Brasil diferente da realidade, e que foi objetiva em relação ao processo de impeachment.


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