Folha de S. Paulo


Em editorial, 'NYT' cobra que Temer respeite plataforma que elegeu Dilma

Os jornais ocidentais reagiram de imediato ao impeachment, com editoriais já nesta quinta (1º). O "New York Times" gasta boa parte de seu texto citando o último discurso de Dilma, para afirmar por fim que "será uma pena se a história mostrar que está certa".

Acrescenta que "os eventos que levaram à sua queda são mais complexos", exemplificando que "fracassou em criar a coalizão necessária para governar" e "abusou de sua autoridade ao dar cargo de ministro para proteger seu predecessor".

O editorial acentua que sua saída "marca o fim de 13 anos transformadores de governo do Partido dos Trabalhadores". E afirma que Michel Temer deve ser "criterioso ao reduzir os programas sociais que tornaram o PT popular".

Em suma, "até que os brasileiros possam eleger um novo presidente em 2018, deve honrar o processo democrático se mantendo, dentro do razoável, respeitoso da plataforma que os brasileiros endossaram pela última vez".

O espanhol "El País" publica o editorial mais agressivo, com o título "Golpe baixo no Brasil" e destacando no subtítulo o "dano imenso às instituições brasileiras".

Afirma que foi atingido o funcionamento institucional de "um país que durante décadas e com esforço havia se convertido em exemplo de democracia consolidada para toda a região". E finaliza: "Estamos diante de uma fraude legal que lança uma séria sombra sobre o futuro imediato do Brasil".

Embora mais contido, o inglês "Guardian" vai por aí. "É difícil ignorar o grau de injustiça nesta queda brutal: Dilma nunca foi acusada de se beneficiar pessoalmente de corrupção, ao contrário de dezenas de políticos brasileiros, muitos dos quais votaram por sua remoção", afirma.

Por outro lado, o financeiro "Wall Street Journal" enfatiza que "o país mostrou respeito impressionante pela lei e pela democracia". Que a remoção de Dilma é "a culminação de um impeachment sóbrio e respeitoso da lei".

Na mesma linha, embora mais contido, o "Washington Post" diz que não foi um "espetáculo de civismo" quando "dúzias de parlamentares acusados de corrupção pessoal votaram para remover Rousseff, que em cinco anos nunca foi acusada de enriquecimento".

Mas sua remoção "foi ainda assim provavelmente a melhor saída à disposição para um país que está cambaleando por um escândalo político e pela pior recessão em um século". Em suma, "foi legal, foi politicamente legítimo e abre o caminho para reformas de que o Brasil precisa desesperadamente".

Na América Latina, o colombiano "El Tiempo", ligado ao presidente Juan Manuel Santos, já saiu com seu editorial, "Dilma, fim de uma era", referência aos 13 anos de PT, capítulo histórico que "prometia uma revolução pacífica, encabeçada por Lula".

Depois de questionar como ela foi derrubada "por manobra considerada menor, de amplo uso nos governos precedentes", em decisão de parlamentares na sua maioria "salpicados por investigações", o jornal afirma que agora "o desafio é fechar as feridas e limpar os costumes políticos", o que não será nada fácil "após um processo que, em vez de unir, dividiu".

FIM DE ERA

Logo após o impeachment, na tarde desta quarta-feira (31), o "New York Times", jornal de maior repercussão global, não avaliou que merecia a manchete digital, que foi para a viagem de Donald Trump ao México. Na chamada, anotou que a votação no Senado foi "também um veredito sobre sua liderança e a corroída fortuna do Brasil".

Na reportagem, o jornal destacou que a decisão é "a pedra angular de uma luta pelo poder que consumiu a nação durante meses e derrubou um dos mais poderosos partidos políticos do hemisfério" ocidental, as Américas.

O "Wall Street Journal", que deu manchete, também destacou que a decisão foi tomada "em meio a uma economia com problemas e um clima político fraccionado" e que o PT agora terá que se "reagrupar". Para o "Washington Post", foi "a culminação de um processo arrastado que dividiu o país".

Os ingleses "Financial Times" e "Guardian", também de repercussão global, abriram manchetes para o impeachment. O primeiro destacou que a decisão "encerra quase 14 anos de governo do esquerdista Partido dos Trabalhadores".

No segundo, "a primeira presidente mulher do Brasil foi retirada do cargo pelo Senado manchado de corrupção, após um processo esgotante que encerrou 13 anos de governo do PT". E que "será substituída por um patrício [aristocrata] de centro-direita que estava entre os líderes da conspiração contra sua ex-companheira de chapa".

Para o francês "Le Monde", o impeachment finalizou "um procedimento jurídico-político altamente controverso". O espanhol "El País", sem dar manchete, destacou o fim dos 13 anos de PT.

Na Argentina, tanto "Clarín" como "La Nación", os dois principais jornais, abriram suas manchetes on-line pela mesma linha de derrocada petista. No primeiro, "Termina uma era no Brasil".


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