Folha de S. Paulo


De Kleiton e Kledir a Mercedes Sosa, senadores cantam nos discursos

O primeiro a cantar foi o senador Magno Malta (PR-ES). Ao fim de seu discurso, ele recitou versos da música "Deu Pra Ti", da dupla gaúcha Kleiton e Kledir. "Deu pra ti / baixo astral / vou pra Porto Alegre / tchau!", disse, em sua despedida para Dilma Rousseff —a presidente afastada iniciou a carreira política na capital gaúcha.

Nesta terça (30), o Senado iniciou o quinto dia de sessão do julgamento do impeachment de Dilma com a manifestação dos advogados de acusação e defesa, além de discursos de senadores.

O senador capixaba abriu o precedente e, depois dele, mais dois senadores —dessa vez, do lado do governo petista— soltaram a voz ao fim de seus discursos.

Otto Alencar (PSD-BA), sozinho, elencou seis músicas de Chico Buarque. Começou com "Construção", dizendo que o impeachment foi construído "tijolo por tijolo, num desenho mágico", embora com uma conotação negativa, pois o senador defende que o processo é ilegítimo.

Depois, emendou com "Geni e o Zepelim" ("Joga pedra na Geni! / Ela é feita pra apanhar! / Ela é boa de cuspir!") e "Meu Caro Amigo" ("Aqui na terra tão jogando futebol / Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll / Uns dias chove, noutros dias bate o sol / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta").

Alencar também citou "Roda Viva", "Mulheres de Atenas" e "Cálice" —mencionou a última ao dizer que muitos senadores "beberam do vinho" de Dilma e agora estão contra ela. Chico Buarque foi um dos convidados de Dilma Rousseff para assistir à sua defesa na segunda (29).

Outro senador entusiasmado foi o petista Paulo Paim, do Rio Grande do Sul. Ele se inspirou nas suas raízes gaúchas em um discurso que parafraseou o compositor tradicionalista Leopoldo Rassier.

Na música "Sabe Moço", Rassier interpreta um soldado esquecido pelos oficiais ao fim da Revolução Farroupilha: "No peito em vez de medalhas / Cicatrizes de batalhas / Foi o que sobrou pra mim". De acordo com Paim, enquanto os aliados de Temer colhem medalhas, os defensores de Dilma ficam com as cicatrizes.

O petista também declamou versos traduzidos de uma música da argentina Mercedes Sosa, "Solo Le Pido a Dios". "Se um traidor tem mais poder que um povo / que esse povo não esqueça facilmente", disse.

POESIA

Além das inspirações musicais, dois poetas foram citados por senadores contrários ao impeachment.

Paulo Paim citou o poema "Que País É Este?", do escritor mineiro Affonso Romano de Sant'Anna. "Uma coisa é um país, / outra um fingimento. / Uma coisa é um país, / outra um monumento."

Regina Sousa (PT-PI) declamou um trecho traduzido de "No Te Rindas", do uruguaio Mario Benedetti: "Não te rendas, por favor, não cedas / Ainda que o frio queime / Ainda que o medo morda / Ainda que o sol se esconda".

*

PLAYLIST DO IMPEACHMENT

1 | Deu Pra Ti
Kleiton e Kledir

2 | Construção
Chico Buarque

3 | Geni e o Zepelim
Chico Buarque

4 | Meu Caro Amigo
Chico Buarque

5 | Roda Viva
Chico Buarque

6 | Mulheres de Atenas
Chico Buarque

7 | Cálice
Chico Buarque

8 | Sabe Moço
Leopoldo Rassier

9 | Solo Le Pido a Dios
Mercedes Sosa


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