Folha de S. Paulo


Protesto contra impeachment em São Paulo tem bombas e depredação

Nelson Almeida/AFP
Police fire tear gas grenades at supporters of suspendend president Dilma Rousseff holding a demonstration during her impeachment trial in Sao Paulo, Brazil on August 29, 2016. Rousseff who testified for the first time at her trial urged the Senate in Brasilia to vote against impeaching her denying charges that she fiddled government accounts. / AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA
Policiais avançam contra manifestantes com bombas de gás na avenida Paulista

Um protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff na avenida Paulista, em São Paulo, terminou em confronto da polícia com manifestantes na noite de segunda (29).

Enquanto a presidente afastada respondia a perguntas de senadores em Brasília, cerca de 3.000 pessoas, segundo a organização do ato, protestavam contra o governo interino de Michel Temer.

Chamado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, compostas por organizações como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e CMP (Central de Movimentos Populares), o protesto se aproximava do prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), apoiadora do processo contra Dilma, quando foi dispersado por bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral lançadas pela tropa de choque da PM.

A ideia inicial era de ocupar o prédio, na frente de onde acampam manifestantes pró-impeachment, mas ele foi cercado por grades e policiais.

Após as primeiras bombas, manifestantes passaram a atirar objetos nos policiais. Foram montadas barreiras em diversos pontos da avenida e de ruas próximas, queimando-se lixo, lixeiras e até uma cadeira. Lixeiras de concreto foram arrastadas para a via.

"Uma barbárie. O governo Geraldo Alckmin protegendo a Fiesp, e para isso reprime manifestação pacífica. É melhor decretar que não pode passar manifestação em frente a Fiesp. Governo ilegítimo sempre tem que usar a força para reprimir manifestações", disse à Folha Raimundo Bonfim, coordenador da CMP. Agora, a central afirma que fará protestos relâmpago na manhã desta terça (30).

O ato se reagrupou, mas foi repetidamente dispersado por bombas. Parte dos manifestantes correu então para a rua da Consolação, virando lixeiras até a altura da praça Roosevelt, no centro. A PM não utilizou balas de borracha.

De acordo com relato ouvido pela Folha, foram lançadas bombas também dentro do da estação de metrô Consolação. "Ninguém conseguia respirar nem enxergar", afirmou uma jovem, que pediu para não ser identificada. Ela disse que voltava do trabalho.

A aposentada Iara Rita, 75, também ficou presa na confusão. "Eu estava no shopping tomando sorvete, saí para pegar o ônibus e começou", afirmou. Chorando, a idosa foi socorrida pela reportagem e levada para dentro de um bar. O estudante Christian Joel, 18, estava com a cabeça sangrando. Ele saía do cursinho quando foi atingido com um cassetete.

Um grupo de manifestantes agrediu um homem que gritava "viva a PM" e tentava desobstruir a via na altura da rua Bela Cintra. Eles o chamaram de fascista e tentaram tirar sua bicicleta. Em seguida, cerca de 20 pessoas passaram a bater no homem caído no chão.

Ele afirmou se chamar Leandro e ter 31 anos. "Ninguém tem direito de obstruir a via", disse. "A esquerda é assim, não aceita ser contrariada."

Por volta das 21h30, a avenida estava liberada nos dois sentidos. Segundo a polícia, apenas uma pessoa foi detida.


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