Folha de S. Paulo


Em carta a Cristina Kirchner, Lula fala de 'gravíssima situação' do Brasil

Enrique Marcarian - 9.set.2015/Reuters
Abraçada a Lula, Cristina Kirchner acena em evento de seu candidato à Casa Rosada, Daniel Scioli, derrotado nas eleições de 2015
Abraçada a Lula, Cristina Kirchner acena em evento de Daniel Scioli, derrotado na eleição de 2015

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta para a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, datada da última sexta-feira (26), para informá-la sobre a "gravíssima situação política e institucional que vive o Brasil".

O documento tornou-se público nesta segunda (29), quando a ex-mandatária o publicou em seu site e aproveitou para afirmar que a crise política brasileira e as investigações jurídicas que a envolvem por suspeita de corrupção não são casualidade.

"São uma estratégia dura contra os governos nacionais e os líderes políticos da região, populares e democráticos", escreveu Cristina.

Na carta, de sete páginas, Lula não fala de golpe, mas de um processo de impeachment inconstitucional e arbitrário, pois, segundo ele, a presidente afastada, Dilma Rousseff, não cometeu nenhum crime de responsabilidade.

"Se trata de um processo político, que viola a Constituição e as regras do sistema presidencialista."

De acordo com Lula, "forças conservadoras" querem criminalizar movimentos sociais e o PT por "temerem" que ele possa ser eleito em 2018.

Assim como Dilma disse em seu discurso na manhã desta segunda, Lula fala que durante todo o ano de 2015 já houve tentativas de inviabilizar o governo.

"Os partidos derrotados [nas eleições de 2014] e os grandes grupos de mídia se rebelaram contra as próprias regras do regime democrático, começando a sabotar o governo e a conspirar para se apoderar do poder por meios ilegítimos."

Uma das táticas adotadas pela oposição, diz, foi a aprovação de medidas no Congresso que comprometiam a estabilidade fiscal.

O ex-presidente também critica o vazamento de informações por parte de autoridades e afirma que as denúncias de corrupção contra líderes de partidos conservadores são arquivadas, enquanto as contra o PT viram uma condenação pelos veículos de comunicação.

Em relação às investigações que envolvem seu nome, Lula diz não temê-las e que não surgiu nenhuma prova de que tenha agido de forma irregular.

Após publicar o documento, Cristina Kirchner -que é investigada por lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e má administração de recursos públicos destacou que Brasil e Argentina estão voltando "ao passado de pobreza e mediocridade para as maiorias" e de benefícios para poucos.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, também demonstrou seu apoio a Dilma nesta segunda, chamando-a de irmã e dizendo que, com o impeachment, pretende-se expulsar pobres, negros e mulheres do poder.

"Os ex-presidentes de direita são favorecidos com um manto de impunidade. Os de esquerda são perseguidos judicialmente", escreveu nas redes sociais.


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