Folha de S. Paulo


Primo de Richa é condenado por fraude à licitação no Paraná

O empresário Luiz Abi Antoun, primo do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), foi condenado nesta segunda-feira (29) por fraude à licitação, organização criminosa e falsidade ideológica num contrato com o governo estadual.

Os crimes teriam sido cometidos num contrato de R$ 1,5 milhão para a manutenção de carros oficiais do governo do Paraná, entre 2013 e 2015.

Abi foi acusado de ser o líder do esquema, investigado na Operação Voldemort. Ele ainda é réu numa outra ação penal, sob acusação de comandar um esquema de corrupção na Receita Estadual –o que ele nega.

Reprodução
Luiz Abi Antoun, primo do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB)
Luiz Abi Antoun, primo do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB)

Segundo a denúncia, Abi e outras quatro pessoas constituíram uma empresa, a Providence, para prestar o serviço de manutenção de carros oficiais. Registrada em nome de um "testa de ferro", de acordo com o Ministério Público, ela pertenceria de fato a Abi Antoun.

A empresa foi contratada emergencialmente pelo governo e, depois, subcontratada pela vencedora da licitação, a fim de continuar prestando os serviços.

Segundo a denúncia, isso foi feito por intermédio do ex-chefe do Departamento de Transportes do Estado, Ernani Delicato, também réu na ação, e "sob a liderança de Luiz Abi Antoun, pessoa de notória influência política no Estado do Paraná".

Todos os réus negaram as acusações e disseram ter agido regularmente.

O juiz Juliano Nanuncio, porém, entendeu que as negativas "estão em total descompasso com os outros elementos colhidos durante a instrução, não tendo sido corroboradas; ao contrário, além de inverossímeis, foram cabalmente rechaçadas".

"[Abi] enveredou pelo caminho do crime organizado, valendo-se de seu capital e influência política para enriquecer-se em prejuízo ao erário", afirmou o magistrado, na sentença.

A pena do empresário chega a 13 anos e cinco meses de prisão, além de multa.

Além dele, também foram condenados Delicato, o empresário Ismar Ieger (dono da oficina e apontado como laranja de Abi), Roberto Tsuneda, José Carlos Lucca, Paulo Midauar e Ricardo Baptista da Silva. Todos poderão recorrer em liberdade.

Após as investigações, o contrato com a Providence foi cancelado pelo Estado. Não houve nenhum pagamento em favor da empresa.

OUTRO LADO

A Folha não conseguiu contato com os advogados dos réus nesta segunda (29).

No processo, Abi afirmou ao juiz que "de modo nenhum" interferiu para a contratação da Providence pelo governo, e confirmou ter trabalhado anteriormente com políticos, inclusive com Richa.

Ele disse que alugou um barracão para a Providence e fez alguns aportes financeiros à oficina, mas negou ser sócio do empreendimento. Segundo ele, seu objetivo era fazer Ieger cumprir o contrato com o governo, a fim de receber o aluguel.

Ieger, dono da Providence, disse ao juiz que foi pressionado pelos investigadores a incriminar Abi Antoun, mas negou que ele fosse o verdadeiro dono da oficina, e disse ter tido prejuízo no contrato, já que nunca recebeu pelos serviços.

O ex-funcionário do governo, Ernani Delicato, afirmou que seu trabalho era "eminentemente técnico" e que não cometeu qualquer favorecimento, nem sequer conhecia Abi Antoun.

Segundo ele, o contrato emergencial foi realizado porque a nova licitação ainda estava em andamento, o que forçou a contratação da Providence.

Em declarações anteriores à imprensa, Richa, que afirma que Abi é um parente distante, sempre afirmou defender as investigações e diz ser o maior interessado em esclarecer os fatos.


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