Folha de S. Paulo


Defesa de Dilma teve embates com adversários e afagos de aliados; veja

Ueslei Marcelino/Reuters
Brazil's suspended President Dilma Rousseff attends the final session of debate and voting on her impeachment trial in Brasilia, Brazil, August 29, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: BRA131
A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) faz sua defesa no processo de impeachment

A presidente afastada Dilma Rousseff fez nesta segunda-feira (29), no Senado, sua defesa no processo de impeachment. Depois de seu discurso inicial, a petista passou a responder a perguntas feitas pelos senadores, favoráveis e contrários ao impeachment.

Diferente do que analistas esperavam, não houve confusões e, no geral, o tom foi de cordialidade.

Os senadores que defendem a saída de Dilma reforçaram as acusações do processo de impeachment: de que a presidente afastada cometeu crime de responsabilidade ao desrespeitar a meta fiscal abrindo crédito sem autorização do Congresso e ao atrasar pagamentos do governo para bancos públicos nas chamadas "pedaladas fiscais".

Alguns ainda a acusaram de cometer "estelionato eleitoral" em 2014 e rejeitaram o rótulo de 'golpe' para o impeachment.

Já Dilma e seus aliados voltaram a negar que ela tenha cometido crimes e defenderam a legalidade de seus atos como presidente.

Veja os embates entre a petista e alguns de seus adversários e afagos feitos por aliados.

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OS ADVERSÁRIOS

ANTÔNIO ANASTASIA (PSDB-MG), relator do processo

"Em 22 de julho, foi enviado ao Congresso Nacional o PLM 5, alterando a meta de R$ 55 bilhões para R$ 5 bilhões. Portanto, a partir desta data, a senhora já tinha plena consciência que a meta não seria mais cumprida.

Ainda assim, em 27 de julho, crédito [suplementar] foi aberto. Por que esse decreto foi assinado por Vossa Excelência, em evidente confronto com a meta?"

RESPOSTA DE DILMA
"Nós abrimos crédito suplementar por decreto porque a LOA [Lei Orçamentária Anual] autorizou. O último decreto que editamos é de 20 de agosto, e decisão do plenário [do Congresso], a única que conta, é de outubro.

Então a não ser que a gente passe a aceitar aqui a retroatividade da lei, fica muito difícil de dizer que há um crime de responsabilidade"

Ueslei Marcelino/Reuters
Senator Aecio Neves (R) speaks next to Senator Antonio Anastasia, rapporteur of the special senate committee during a voting session on the impeachment of President Dilma Rousseff in Brasilia, Brazil, August 29, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino ORG XMIT: BRA124
Senador Aécio Neves fala ao lado de Antonio Anastasia em sessão no Senado

AÉCIO NEVES (PSDB-MG), ex-candidato à Presidência

"Não poderia imaginar que depois do debate nos encontraríamos no Senado Federal nesta posição"

"Não é desonra alguma perder eleições, sobretudo quando se defende ideias e se cumpre a lei. Eu não diria o mesmo quando se vence as eleições faltando com a verdade e cometendo ilegalidades"

RESPOSTA DE DILMA

"Respeito todos que concorreram comigo. Agora, não respeito a eleição indireta que é produto de processo de impeachment sem crime de responsabilidade"

AÉCIO NEVES, ao comentar as respostas de Dilma
As respostas dela independem da pergunta. Como disse o Cássio (Cunha Lima), se você perguntar se ela pedalou ou se matou a Odete Roitman [personagem da novela 'Vale Tudo", de 1988] a resposta vai ser a mesma.

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RONALDO CAIADO (DEM-GO), líder do DEM no Senado

Eduardo Anizelli/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-05-2016: O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), discursa durante sessao do impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Senado Federal. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)

"Todos os bancos privados [envolvidos no Plano Safra] foram pagos mensalmente [...] Os bancos oficiais tiveram de bancar 60 bilhões de reais de pedalada."

"A opção do governo da senhora foi de emprestar dinheiro para países governados por tiranetes e penalizar os programas sociais."

RESPOSTA DE DILMA

"O Plano Safra é fundamentalmente executado pelo Banco do Brasil. Os bancos privados têm uma participação menor do que 10% no total dos empréstimos, e os demais bancos privados entram via BB. Não é possível dizer que nós tivemos um tratamento diferente."

"Na minha campanha era criminoso que o Brasil tivesse financiado o Porto de Mariel. O presidente Obama tem no registro do seu mandato, reestabelecer as relações comerciais com Cuba. [...] E o nosso Porto de Mariel é disputado por todo aqueles que querem investir em Cuba"

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MAGNO MALTA (PR-ES), senador

Reprodução
Presidente da Itatiaia, Victor Penna Costa, e senador Magno Malta em evento da empresa
O senador Magno Malta (à dir.)

"Quem mentiu no processo eleitoral? Foram os marqueteiros? A senhora não tinha as informações? A senhora mentiu no processo eleitoral?"

RESPOSTA DE DILMA

"Eu não menti no processo eleitoral, senhor senador. Mas não é possível que só nós [governo] prevíssemos a crise que estava por vir. Nós não temos uma bola de cristal. Ninguém sabia disso. [...] Ninguém controla a política do Banco Central americano. Não sabíamos que teríamos uma desvalorização tão grande do Real."

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ALOYSIO NUNES (PSDB), líder do governo Temer

Alan Marques - 11.mai.2016/Folhapress
Senador Aloysio Nunes Ferreira, novo líder do governo na Casa

"[O impeachment é um] golpe? Com supervisão do Supremo Tribunal Federal? Com a senhora exercendo todo o direito de defesa em todas as instâncias?

RESPOSTA DE DILMA
"Se me julgarem sem crime de responsabilidade, senador, é golpe. Um golpe integral"

OS ALIADOS

KÁTIA ABREU

Alan Marques/Folhapress
#multimidia - Brasilia,DF,Brasil 29.04.2016 Os ministros da Fazenda, Nelson Barbosa, da AGU, Jose Eduardo Cardozo, e da Agricultura, Katia Abreu, fazem a defesa da Dilma Rousseff na Comissao do Impeachment no Senado. Foto: Alan Marques/Folhapress 0619
O ex-ministros Nelson Barbosa, Kátia Abreu e José Eduardo Cardozo

"Não tenho dúvida que esse impeachment é um processo que nasceu da vingança sórdida de Eduardo Cunha e da ganância de um pequeno grupo pelo poder"

JORGE VIANNA (PT-AC)

"A oposição brasileira tem medo da palavra golpe. Ou é golpe ou é farsa [...] A oposição está sendo desleal com a Constituição"

ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR)

"Não é a presidente que está sendo julgada no Senado. É a democracia"

VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB-AM)

Eduardo Anizelli - 11.mai.2016/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-05-2016: A senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), discursa durante sessao do impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Senado Federal. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)
Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) no Congresso

"Senhora presidenta, esse é o embate político de quem perdeu nas eleições. [...] O PSDB pagou R$ 45 mil por essa denúncia[...] A presidenta Dilma não fez nada que o Lula não fez no seu mandato, que o Fernando Henrique não fez no mandato dele."

GLEISI HOFFMANN

"Aqui não tem tanques, não tem baionetas, não tem tortura física, mas não faltaram a tortura emocional, psicológica, política [...] A política não tem saias presidenta, por enquanto, não ainda. Ainda é um ambiente misógino"


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