Folha de S. Paulo


Para senador tucano, crimes de Dilma atingiram o Brasil de forma direta

Alan Marques - 11.dez.2012/Folhapress
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), em sessão de CPI em 2012
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), em sessão de CPI em 2012

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), afirma que a participação da presidente afastada, Dilma Rousseff, no julgamento final do impeachment nesta segunda (29) não será capaz de conquistar um único voto a favor dela.

O tucano diz ainda que o impeachment começou a se tornar realidade quando Dilma perdeu o apoio das ruas, da base no Congresso e se comprovou que ela cometeu crime de responsabilidade.

Para Cunha Lima, o PSDB vai manter o apoio ao governo interino de Michel Temer, apesar de sinais de divergência nas últimas semanas. Segundo ele, o PSDB vai "gritar sempre que estiver convencido de que o governo está no rumo errado".

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Folha - Que impacto o depoimento de Dilma terá no resultado do impeachment?
Cunha Lima - O que poderá mudar é a ampliação dos votos a favor do impeachment. Não creio que ela tenha capacidade de conquistar um único voto além dos que já tem. Por uma razão simples: ela cometeu os crimes e as consequências são gravíssimas. Não acredito que consiga nada além do que repetir o discurso usado pelo PT para tentar fazer crer que existe um golpe.

Um dos argumentos dos aliados da presidente é de que os crimes, em si, são muito pequenos para que perca o mandato...
Ao longo do processo, a presidente nunca apresentou defesa, só desculpas. Quando dizem que o crime é muito pequeno para justificar a cassação, estão reconhecendo a sua prática. O impeachment nasceu do povo brasileiro, não foi engendrado no Congresso. A Casa enxergou a possibilidade quando constatou que ela cometeu crimes.

O impeachment exige um ambiente próprio, que estava estabelecido com o fato de a presidente ter mentido nas eleições. Estava formado um ambiente político e jurídico.

Ela deve ser cassada então pelo conjunto da obra?
Ela está sendo condenada pelos decretos [de crédito suplementar], que são ilegais, e pelos empréstimos [as chamadas "pedaladas fiscais"], que foram fraudulentos. Esses dois atos tiveram uma consequência visível. Quando se fala em conjunto da obra é porque os crimes que ela cometeu atingiram de forma direta o dia a dia do brasileiro.

Qual será o placar da votação no Senado?
Vai depender do voto ou não do presidente Renan [Calheiros]. Se ele não votar, 60 a 20. Se ele votar, 61 a 20. Acho que na votação final seria importante o voto dele. É um fator de estabilidade.

O que o senhor espera de um governo Temer efetivo?
É importante ponderar que não houve transição. Então, é possível que se dê uma tolerância para que ele, aí sim, assumindo em definitivo, adote medidas necessárias para que a gente possa permitir que o ambiente econômico mude, se vislumbre algum crescimento da economia e que o país caminhe na direção correta.

Com a efetividade do governo, ele terá mais condições de guinar no sentido do ajuste fiscal?
O presidente vai ter uma segunda chance. O PSDB quer ajudar, vai apoiar. É parceiro, desde que estejamos optando pelo caminho mais difícil, complicado de ser percorrido, que é o que vai nos levar ao caminho certo, de um ajuste fiscal de fato.

E a paciência acaba quando?
Essa tolerância não acaba de forma abrupta. Já se gastou um bom pedaço dela. Os agentes econômicos irão exigir providências, o Congresso também. Temos pelo meio uma eleição municipal. E daí restará uma janela estreitíssima, de praticamente 45 dias, no fim do ano, para que coisas importantes, como reforma da Previdência e limite de gastos, sejam discutidas e preferencialmente aprovadas no Congresso.

Se o governo fracassar, Temer perderá base de apoio?
O ambiente ficará muito mais hostil. Mas o PSDB é um aliado que não vai deixar de chamar a atenção se o governo, porventura, quiser tomar o caminho errado.

A Lava Jato preocupa o PSDB em relação ao futuro do governo Temer?
Não. O que o PSDB deseja é que as investigações ocorram, que se aponte os responsáveis dentro do funcionamento normal das instituições. Não há preocupação com o governo de A ou de B.

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RAIO-X

Idade
53 anos

Cargo
Advogado e líder do PSDB no Senado

Trajetória
Foi prefeito de Campina Grande (PB), deputado federal e governador da Paraíba por dois mandatos


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