Folha de S. Paulo


Réplica

Ombudsman vê árvores e esquece a floresta, diz editor de 'Esporte'

Paula Cesarino Costa está entre as melhores jornalistas desta Folha e é um privilégio tê-la como ombudsman.

Suas observações nos boletins diários para a Redação foram úteis para ajustes da cobertura da Olimpíada.

Dito isso, chama a atenção a superficialidade com que avaliou a atuação da Folha nos Jogos em sua coluna do último domingo (21).

Erros foram cometidos e merecem ser discutidos, mas a abordagem jornalística do maior evento esportivo já sediado pelo Brasil deveria ser vista como um todo, não em fragmentos, que a levaram a conclusões equivocadas.

Em vez de avaliar a floresta, a ombudsman preferiu mirar uma árvore aqui, outra ali.

Ela menciona referências sexistas da imprensa esportiva, que poderiam ser observadas "até na Folha". Dá como exemplo uma frase sobre a nadadora Katinka Hosszu: "A nova fase fez brotar uma Katinka mais forte, quase masculinizada, porém letal".

Foi, reconheço, um trecho infeliz. Dez dias depois, em uma página bem-humorada com os mais belos atletas do evento, foram destacados 12 homens e nove mulheres.

Terá sido um arroubo feminista? Não. Nem o texto sobre a nadadora nem a página especial permitem conclusões tão categóricas. De modo geral, prevaleceu o equilíbrio.

A ombudsman também aponta a ausência de textos analíticos baseados em agregação de dados. Que os leitores permitam uma obviedade: só é possível analisar dados de modo definitivo quando eles estão prontos para serem analisados. Antes disso, seria uma leviandade.

Na reta final dos Jogos, com consolidação de marcas e recordes, análises detalhadas foram, sim, publicadas. A ombudsman também se queixou de que o jornal "pouco mostrou da festa da cidade além das arenas".

No início da Olimpíada, reportagens com esse viés ganharam mais visibilidade no site do que na versão impressa. Ao longo dos Jogos, contudo, a movimentação em Copacabana e na Lapa, entre outras áreas, tomaram as páginas do caderno olímpico.

Nesses lugares, como a Folha mostrou, cariocas e turistas curtiram o clima positivo dos Jogos, o que nos leva ao último ponto.

A ombudsman identificou um tom mal-humorado na cobertura, que não condiz com a realidade.

Em grandes eventos, como Olimpíada e Copa do Mundo, o ufanismo da maior parte das TVs brasileiras se exacerba. O entretenimento ocupa o espaço do jornalismo.

Nesses períodos, a cobertura da Folha destoa ainda mais da concorrência pelo espírito crítico e pela independência. Essa sobriedade, contudo, não deve ser confundida com pessimismo.

Sob rigor jornalístico, pontos positivos foram contemplados do início ao fim dos Jogos. Na seara urbana, a eficiência do novo sistema de transporte do Rio e o novo Boulevard ganharam destaque, entre outras histórias.

Na esfera esportiva, os feitos dos medalhistas brasileiros receberam ampla cobertura em reportagens, análises, fotos e infografias.

Havia uma floresta a ser vista...


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