Folha de S. Paulo


ANÁLISE: Crise do Estado é arma contra Olimpíada em debate no Rio

Agencia Brasil
 Pedro Paulo Carvalho será o candidato de Eduardo Paes à prefeitura em 2016
Pedro Paulo é o candidato do PMDB à Prefeitura do Rio

Quatro dias após o fim da Olimpíada, o evento foi usado como trampolim pelos candidatos de oposição para colocar em dúvida a situação financeira do município. O espelho foi a calamidade pública no governo do Estado, governado pelo PMDB assim como a capital.

O alvo de todo o debate foi o candidato Pedro Paulo (PMDB) e seu padrinho político, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Embora com apenas 5% no Datafolha, ele é visto como o potencial adversário de todos os candidatos para uma das vagas no segundo turno –a outra está virtualmente assegurada para Marcelo Crivella (PRB), com 28% nas intenções de voto. A disputa foi por quem se tornaria o principal antagonista do peemedebista.

O peemedebista buscou repetir que a situação da prefeitura "é de equilíbrio" após os Jogos. Os candidatos tentaram lembrar que argumento semelhante fora dado pelo governador licenciado do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), há dois anos, logo após a Copa do Mundo, quando disputava a reeleição.

"Essa historia do Pedro Paulo é a mesma do Pezão em 2014. Na Copa também foi uma alegria receber tanta gente. O estado agora está em calamidade publica", disse o deputado Alessandro Molon (Rede).

"Parece o debate que fiz com o Pezão [há dois anos]. Deu no que deu", disse Crivella, que disputou o segundo turno na eleição estadual.

Discussões sobre saúde financeira do governo raramente levam a algum lugar numa campanha eleitoral. É debate eminentemente técnico que poucos eleitores têm paciência. O cenário muda de figura quando se tem um exemplo tão real do que pode provocar a penúria fiscal.

Se há dois anos os sucessivos déficits primários não foram suficiente para indicar ao eleitor a grave situação financeira do Estado, Pedro Paulo, e por tabela Paes, terão de se esforçar para tentar provar que o cenário da prefeitura é diferente do governo, também administrado pelo PMDB.

Em 2015, o município teve déficit orçamentário de R$ 86 milhões. O TCM (Tribunal de Contas do Município) aprovou as contas de Paes sob o argumento de que o resultado negativo se deveu à antecipação de recursos feitos pelo município a verbas não enviadas pelo governo federal referente a convênios para a Olimpíada.

O evento, neste ponto, entra como símbolo do suposto desequilíbrio.

Crivella disse que a prefeitura reduziu gastos em saúde e educação para investir nos Jogos. O deputado Carlos Roberto Osório (PSDB) afirmou que o prefeito Eduardo Paes assumiu compromissos que não eram seus na organização do evento por "motivos políticos". "Queria ser o dono da festa", completou o candidato do PRB.

Coube a Pedro Paulo manter o sorriso no rosto e manter o clima de festa. "O Rio conseguiu fazer uma Olimpíada num cenário de crise e manteve os investimentos em saúde e educação".

É uma guerra de versões em que o eleitor acredita em quem parece mais convincente.

Até mesmo o debate sobre o impeachment entrou na discussão olímpica-financeira, como uma forma de buscar identificação do eleitorado.

A deputada Jandira Feghali usou seu espaço para afirmar que o "governo federal bancou a Olimpíada" e questionou o voto de Pedro Paulo em favor do impeachment. "Por que a traição?"

O deputado Índio da Costa (PSD) –vestindo uma camiseta preta, em contraposição aos demais candidatos homens, de blazer– disse que os aliados de Paes "quebraram o governo do Estado, quebraram o governo federal, e agora vão quebrar o município".

Osório comparou as propostas de Pedro Paulo ao "estelionato eleitoral da [presidente afastada] Dilma [Rousseff] e [o marqueteiro] João Santanta" nas eleições de 2014.

Líder, Crivella buscou manter o tom professoral, distante dos debates mais acalorados, mas com pitadas de humor com que busca demonstrar segurança no que diz.

Segundo colocado numericamente no Datafolha, Marcelo Freixo (Psol) não participou do debate em razão da nova lei eleitoral. Flávio Bolsonaro (PSC) passou mal no terceiro bloco e deixou o teatro Oi Casagrande, no Leblon, zona sul do Rio.

Restou a Pedro Paulo fazer a defesa dos Jogos, "momento sonhado por essa cidade". "Queria agradecer pela paciência [dos cariocas]", disse o peemedebista, no começo do debate, em relação aos transtornos das obras para os Jogos. Poderia ter repetido a frase aos que assistiram o debate até o fim.


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