Folha de S. Paulo


Palestras são para dar 'recado' às empresas sobre propina, diz Moro

Alan Marques - 04.ago.2016/Folhapress
Brasilia, DF, Brsasil, 04/08/2016: O juiz da Lava Jato, Sergio Moro, fala na comissao especial da Camara que a analisa o projeto do lei de combate a corrupcao.
O juiz da Lava Jato, Sergio Moro, em comissão que analisa projeto de combate à corrupção

O juiz federal Sérgio Moro, que cuida da Operação Lava Jato em primeira instância, afirmou nesta quarta-feira (10) que tem aceitado dar palestras a empresas para passar "recado óbvio" de que elas têm responsabilidade na corrupção.

Moro deu a explicação durante palestra em Brasília em um seminário sobre "democracia, corrupção e Justiça" promovido pela universidade UniCEUB para seus estudantes. Também participaram do evento o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, o ex-ministro Carlos Ayres Britto, o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol e a professora de direito dos Estados Unidos Susan Rose-Ackerman.

"Tenho concordado em dar palestras com certas frequência a entidades empresariais, tem sido um pouco cansativo por conta da agenda, mas acho importante porque eu dou aquele recado óbvio de que [a corrupção] não é só problema do governo, é problema da empresa que paga propina", disse Moro.

E completou: "Se o empresário decide não pagar, já é um grande passo".

O juiz rebateu as críticas que tem sido feitas por advogados à Lava Jato e afirmou, por exemplo, que as prisões preventivas só ocorreram quando havia "risco ao processo, risco à aplicação da lei penal ou risco à reiteração delitiva".

"Tenho muito bem presente que prisão preventiva é excepcional", afirmou.

Disse também que as delações premiadas não são a prova principal dos processos, porque são corroboradas por dados bancários obtidos principalmente via cooperação internacional.

Moro citou ter passado por "grande perturbação" ao ver que houve cometimentos de crime no mesmo período em que o Supremo julgava o mensalão e também pela naturalidade com que os delatores falavam do pagamento e recebimento de propina.

Ao finalizar sua palestra, Moro disse esperar que a Lava Jato "propicie uma agenda de reformas" e que o caso deve ser encarado sob uma "perspectiva otimista de que esse quadro nos propicia oportunidade única de mudança e nós devemos aproveitar essa oportunidade".

O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Ministério Público Federal em Curitiba, também defendeu a realização de mudanças pelo Congresso e pediu apoio às Dez Medidas contra Corrupção, propostas pelo Ministério Público e que foram enviadas ao Congresso como projeto de lei de iniciativa popular após receber cerca de dois milhões de assinaturas.

"A corrupção no Brasil é um crime de baixo risco e alto benefício. Nós precisamos mudar essa realidade", afirmou.


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