Folha de S. Paulo


Empresa investigada na Custo Brasil pagou dívida de campanha do PT, diz empresário

O empresário Carlos Cortegoso, dono das empresas Focal Confecções e Comunicação Virtual e CRLS Consultoria e Eventos, disse, em depoimento à Polícia Federal, que recebeu R$ 300 mil da Consist, empresa alvo da Operação Custo Brasil, desdobramento da Operação Lava Jato.

O pagamento, segundo o depoimento, foi feito sem que suas empresas tivessem prestado qualquer serviço ou fornecido para a Consist.

Cortegoso disse que o dinheiro era um abatimento de dívidas de campanhas petistas com suas empresas. "Isso aconteceu devido a créditos que o declarante e/ou sua empresa tinha junto ao PT por serviços realizados e não pagos no passado." O depoimento foi feito em 21 de julho.

A Consist é investigada por suspeita de ter desviado para petistas mais de R$ 100 milhões vindos de contratos de crédito consignado de servidores públicos federais. A Focal, de Cortegoso, foi a segunda maior fornecedora da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff.

O depoimento de Cortegoso corrobora a informação dada pelo ex-vereador do PT em Americana (SP) Alexandre Romano, delator no processo da Custo Brasil. Em 15 de outubro do ano passado Romano disse que "a Consist pagou cerca de três parcelas para a CRLS (empresa de Cortegoso) diretamente e acredita que sequer houve contrato nesse caso".

Cortegoso disse que desde 1989 trabalha para campanhas petistas e que as dívidas do partido com suas empresas "começaram a surgir a partir de 2004 por conta da campanha para a prefeitura do município de Mauá". Ele calcula que a dívida acumulada em 2010 girava em torno de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões. "Esse pagamento de cerca de R$ 300 mil foi um abatimento de parte dessa dívida", disse aos policiais federais.

O empresário disse que o ex-ministro Luiz Gushiken (morto em 2013) foi quem o apresentou ao esquema. O empresário foi orientado a procurar Alexandre Romano para tratar do recebimento dos valores.

"Conversando com o sr. Luiz Gushiken sobre a dívida do partido em relação a Mauá, ele (Gushiken) ficou de buscar uma solução se não total, ao menos parcial", disse Cortegoso. O empresário pediu inicialmente que o pagamento fosse de R$ 500 mil, mas Romano só concordou em pagar R$ 300 mil.

OUTRO LADO

A defesa de Carlos Cortegoso não quis comentar o depoimento alegando que a investigação corre em segredo de justiça. Daniel Casagrande, advogado de Alexandre Romano, disse que "o depoimento de Cortegoso só confirma o que o Alexandre disse na sua delação. Ele vai manter tudo o que disse durante o processo penal".


Endereço da página:

Links no texto: