Folha de S. Paulo


Queiroz Galvão cometeu 'todos os pecados', diz procurador

Avener Prado - 14.nov.2014/Folhapress
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras

Última das grandes empreiteiras que ainda não havia sido alvo de uma fase da Operação Lava Jato, a Queiroz Galvão cometeu "todos os pecados" investigados na operação, segundo o Ministério Público Federal.

"Ela representa todos os pecados, todas as espécies de crimes que verificamos na Lava Jato", declarou o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, durante coletiva de imprensa nesta terça (2).

Segundo ele, há indícios de que executivos da empreiteira realizaram pagamentos de propina por meio de contratos de fachada, fizeram transferências no exterior, doações oficiais e caixa dois, além de tentar impedir investigações da CPI da Petrobras, em 2009.

Os dois executivos da empreiteira presos preventivamente nesta terça (2), Othon Zanoide de Moraes Filho e Ildefonso Colares Filho, "comandavam, determinavam e executavam o pagamento de propina e atos de lavagem [de dinheiro]", segundo a delegada federal Renata da Silva Rodrigues.

Uma parte importante dos pagamentos era feita no exterior, por meio da Quip –consórcio que construiu a plataforma P53 e cujo líder era a Queiroz Galvão.

O executivo Marcos Pereira Reis, diretor financeiro do consórcio Quip, seria o responsável pelos pagamentos. Alvo de um mandado de prisão temporária, ele está na China, em viagem de negócios. Segundo sua defesa, ele irá providenciar seu "retorno imediato" ao Brasil.

"Havia a utilização de uma estrutura financeira lá fora", diz Rodrigues. Segundo as investigações, pelo menos quatro offshores e um trust eram utilizados pela empreiteira para realizar pagamentos a operadores de propina no exterior.

CPI E CAIXA 2

A Quip também é investigada por um pagamento de R$ 2,4 milhões à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006, conforme informou o delator Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC.

Esse pagamento não foi alvo da operação desta terça, mas está sob investigação da força-tarefa, que ainda precisa rastrear o dinheiro.

O mesmo vale para os R$ 10 milhões que teriam sido pagos pela Queiroz Galvão ao então senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), em 2009, para enfraquecer a CPI da Petrobras. Esses valores ainda precisam ser rastreados pela investigação.

Um vídeo gravado por um amigo de Fernando Soares, o Baiano, é uma das principais provas relativas ao episódio.

Ele mostra uma reunião entre o ex-senador, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), dois executivos da Queiroz Galvão, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e Baiano, além de Erton Medeiros, da Galvão Engenharia.

No registro, Guerra afirma que "não vamos polemizar", diz que tem "horror a CPI" e que considera "deplorável" um deputado "fazendo papel de polícia". O tucano, que morreu em 2014, era um dos integrantes da comissão.

"É uma prova bastante substancial de que houve tentativa de obstruir as investigações", declarou a delegada Rodrigues. Os fatos já são alvo de um inquérito em andamento no STF (Supremo Tribunal Federal).

OUTRO LADO

Em nota, a Queiroz Galvão informou que "está cooperando com as autoridades e franqueando acesso às informações solicitadas".

A empreiteira diz que a PF realizou busca e apreensão em algumas de suas unidades, e que ex-executivos e colaboradores foram alvos de medidas cautelares.

Os executivos presos não haviam constituído advogado nos autos até a noite desta terça, mas, em depoimentos anteriores à PF, negaram irregularidades.

No ano passado, Ildefonso Colares Filho negou aos policiais que tenha pago propina a diretores da Petrobras ou tenha feito caixa dois. Também rechaçou repasses relacionados à CPI de 2009 e afirmou que o PSDB não teria força para enterrar a comissão.

Disse ainda que era procurado pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto para contribuições, mas sustentou que precisava submeter os pedidos a sócios da empresa.


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