Folha de S. Paulo


Banco do Panamá fazia 'dupla camada' de lavagem para brasileiros, diz PF

Mesmo sem autorização para operar no Brasil, o banco panamenho FPB Bank, alvo da 32ª fase da Lava Jato, tinha site em português e abria contas clandestinamente no exterior para clientes brasileiros.

Representantes do FPB no Brasil são os alvos da operação desta quinta-feira (7), que cumpriu sete mandados de condução coercitiva. Eles trabalhavam em escritórios clandestinos, situados em São Paulo, São Bernardo do Campo e Santos –que também foram alvos de busca e apreensão.

Os funcionários investigados são: Edson Paulo Fanton, Isidora Maria Solano Carmona, Celina Daiub Pirondi Tedesco, Marilena Alves Ferreira, Elizabeth Costa Lima, Edsel Okuhara e Carla Fabiana Di Giuseppe.

A suspeita dos investigadores é que a instituição tinha "um papel importante" ao transferir dinheiro para fora do país e, por funcionar clandestinamente, serviria como um intermediário de propinas.

"Não é razoável que uma pessoa busque uma instituição financeira sem autorização senão para fins ao menos duvidosos", declarou o delegado federal Rodrigo Sanfurgo.

A PF ainda não tem estimativa de quanto o banco movimentou no Brasil e nem quantos clientes possuía. Também não foram relevados os nomes dos clientes -o objetivo da 32ª fase é justamente mapear quem utilizava os serviços do FPB no Brasil e por quê.

A Lava Jato, assim, abre uma frente de investigação de crimes financeiros no FPB, o que pode atingir, além de funcionários públicos e políticos, qualquer pessoa que tenha contas clandestinas na instituição.

"O anonimato garantido pelo FPB Bank aos seus clientes gera fundada suspeita de acobertamento de crimes", escreveu o juiz Sergio Moro, ao aceitar o pedido de busca e apreensão. "Nesse contexto, as medidas investigatórias requeridas pela autoridade policial são imprescindíveis para esclarecer a extensão das atividades do FPB Bank no Brasil e identificar seus clientes e os ativos destes."

Entre os crimes investigados, estão lavagem de dinheiro, evasão de divisas e operação irregular de instituição financeira.

PRIVATE BANK

O FPB funcionava "praticamente como um private bank" para os clientes brasileiros, segundo Sanfurgo.

"Era um pacote completo", disse. "Eles iam até as casas dos clientes, faziam a parte documental e abriam as contas."

Havia uma forte conexão entre o FPB e a Mossack Fonseca, escritório panamenho de advocacia investigado na 22ª fase da Lava Jato, que deu origem à fase atual.

As duas empresas possuíam um telefone criptografado, um Voip (que funciona pela internet), usado exclusivamente para manterem contato entre si.

Funcionários do FPB pediam à Mossack que abrissem offshores (empresas constituídas no exterior) em nome de seus clientes, e então faziam a transferência dos valores para fora do país.

"Era uma dupla camada de lavagem de dinheiro", explicou a procuradora da República Jerusa Viecili. "Além de abrir offshores, esses clientes também usavam uma conta em banco que atuava de forma clandestina."

Segundo a investigação, foram, pelo menos, 44 offshores abertas a pedido do FPB. Os beneficiários dessas contas não foram revelados.

Quatro investigados na Lava Jato (Renato Duque, Pedro Barusco, Mario Goes e Roberto Trombeta) possuíam offshores abertas pela Mossack. Não se sabe, porém, se eles também tinham contas no FPB.


Endereço da página:

Links no texto: