Folha de S. Paulo


Nos EUA, Ciro diz que só será candidato à Presidência se Lula não for

Alan Marques - 16.set.15/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 16.09.2015. Ciro Gomes se filia ao PDT em ato na sede do partido com liderança partidárias. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
Ciro Gomes durante evento de filiação ao PDT, na sede do partido, em Brasília

O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) disse nesta quarta (6) nos EUA que não será candidato à Presidência na próxima eleições caso o ex-presidente Lula esteja na disputa.

Para Ciro, é inegável que Lula tem responsabilidade pela crise política no país.

"O Lula deveria dar passagem para que se construa algo que não carregue o peso da contradição que levou o Brasil a essa tragédia", afirmou. "Vamos ter clareza, quem é o responsável por esta tragédia, remotamente, embora tenha sido traído em sua boa fé, e vamos acreditar nisso, foi o Lula. Ele que botou o Michel Temer de vice, ele que empoderou com Furnas e com a vice-presidência da Caixa o Eduardo Cunha. Como será ele agora o candidato para negar isso?".

Em debate no centro de estudos Atlantic Council, em Washington, o ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula não quis anunciar oficialmente que é candidato, porém disse que "poderá ser". Mas só se o petista não estiver na disputa e os partidos de esquerda se unirem. Caso contrário, não disputará a Presidência.

"Não tem lugar, não tem lugar. Hoje no Congresso, na Câmara Federal, os setores progressistas são cinco partidos que não chegam a cem deputados. Estes cinco partidos tem quatro candidatos [à Presidência]", disse Ciro. "Você acha responsável isso com o país diante da avassaladora onda conservadora, golpista que o país está atravessando? Não pretendo participar desta irresponsabilidade."

Ciro concorreu à Presidência duas vezes, em 1998 e 2002, quando recebeu 10,2 milhões de votos.

O ex-governador reiterou que vê no governo Lula a origem da crise política que afastou a presidente Dilma Rousseff da Presidência.

"Antes eu falava mal dos meus adversários, de repente ficou impossível defender meus amigos. Discordei profundamente do caminho que o Lula fez de aliança com esse lado podre da política brasileira", afirmou, voltando a criticar a possibilidade de Lula disputar a Presidência.

"O Lula candidato estressa todo o processo, para si e para os outros. [Nesse caso], eu não serei candidato. Menos por apego a ele, e mais porque não quero conciliar com esse tipo de contradição".

Mesmo sem afirmar explicitamente que é candidato, Ciro teve momentos que lembraram uma campanha eleitoral. "Acredito que o mais treinado, menos por mérito meu e mais pelo desastre generalizado, sou eu. Nessas circunstâncias eu serei candidato. Pronto, falei", disse, sem detalhar quais as condições para que se lance candidato.

Embora considere um golpe o impeachment de Dilma, Ciro disse que seu partido está disposto a ajudar o governo a aprovar medidas "com critério" para a economia.

"Estou seguramente convencido de que o desastre fiscal brasileiro não será nem sequer minorado sem aumentar as receitas. O PT votará contra a CPMF, o meu partido votará a favor", disse.

O ex-governador arrancou aplausos de brasileiros na plateia contrários ao impeachment ao dizer que o Brasil mantém uma tradição golpista e autoritária.

"Em hora de confusão, o importante é o apego às regras, o amor à institucionalidade democrática. Daí a razão de eu, apesar de ser um crítico azedo do governo Dilma, considerar um absurdo o golpe de Estado", disse. "A regra no Brasil, me dá muita vergonha afirmar aqui, é o autoritarismo e o golpe. Apenas três presidentes concluíram os seus mandatos".


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