Folha de S. Paulo


Governo Pimentel passa a ser fonte de investigações contra tucanos em MG

Alan Marques - 2.mar.2016/Folhapress
O governador Fernando Pimentel (PT) durante encontro sobre tragédia em Mariana (MG)
Fernando Pimentel (PT), durante encontro sobre tragédia em Mariana (MG)

Após mais de um ano sob acusações e com o governador denunciado sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro, a gestão do governador mineiro Fernando Pimentel (PT) intensificou a divulgação de documentos que comprometem os governos anteriores, do PSDB.

Pimentel sempre foi visto como uma figura moderada em relação aos tucanos, mas aliados e opositores veem a revelação de relatórios da CGE (Controladoria-Geral do Estado) que expõem problemas dos antecessores como um sinal de revide ao desgaste causado pela Operação Acrônimo, da Polícia Federal.

Um desses relatórios, que serviu de subsídio para a prisão do ex-presidente tucano Narcio Rodrigues, conhecido por ser próximo ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), estava pronto desde o ano passado, mas foi divulgado dias antes de a Procuradoria-Geral da República apresentar denúncia contra o governador.

Um ano antes, Pimentel e Narcio chegaram a discutir a possibilidade de torná-lo "assessor especial" de uma fundação do governo -a mesma onde foram encontrados desvios de dinheiro.

"O Pimentel chegou à conclusão de que não adianta ser republicano com esse pessoal dos tucanos", afirma o líder do governo na Assembleia Legislativa de Minas, deputado Durval Ângelo.

O relatório sobre a fundação foi divulgado pela Folha. Mais de um mês depois, foi revelado relatório da CGE que busca irregularidades nas escolas técnicas Uaitecs, programa idealizado pela gestão Narcio Rodrigues na Secretaria de Ciência e Tecnologia do governo Antonio Anastasia (2010-2014).

No último mês, houve ainda a revelação de um documento que aponta suspeita de prejuízo de R$ 18 milhões ao Estado por uma empresa de familiares do senador Zezé Perrella (PTB).

Tanto Rodrigues quanto Perrella negam as acusações. A Controladoria, em nota, também nega que haja uma politização do órgão.

A CGE afirma que o que foi encontrado nos relatórios de auditoria "decorrem da aplicação de procedimentos técnicos e objetivos, não havendo manifestação de juízo de valor nem de questões político-partidárias".

"Além disso, conforme determina a Lei de Acesso à Informação, os relatórios de auditoria são disponibilizados após sua conclusão", informa o órgão, em nota.

O Governo de Minas, em nota, afirmou "que essa informação [conversa de Pimentel com Narcio] é absolutamente improcedente e que este episódio jamais ocorreu" –a reportagem, porém, conversou com aliados de ambos os lados que confirmam que houve, sim, a conversa.

TUCANOS

No último dia 20, um juiz determinou que a CGE retirasse de seu site a reprodução de uma entrevista feita pela Agência PT com o atual e o ex-controlador, cujo subtítulo criticava os tucanos.

A decisão foi comemorada pelo PSDB, que acusa o governo de usar a máquina de forma partidária. "O Pimentel faz como nunca uma tentativa de criminalização do PSDB, mas não somos o PT, que defende o [ex-tesoureiro João] Vaccari, o [ex-ministro José] Dirceu", diz o deputado federal Domingos Sávio, presidente do partido em Minas.

Já o pré-candidato tucano a prefeito de Belo Horizonte, João Leite, diz que "as denúncias contra ele [Pimentel] são muito mais graves [que as de Narcio Rodrigues]".

Ao menos em público, o partido pretende manter uma posição de que esperará as conclusões da Justiça para se manifestar sobre a permanência de Rodrigues em seus quadros.

Ele é réu sob acusação de fraude em licitação, organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e atrapalhar investigação criminal. A defesa tem negado as acusações.

A defesa de Fernando Pimentel também nega que ele tenha cometido qualquer irregularidade.


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