Folha de S. Paulo


Prisão é recomeço para ex-diretor de fundo, diz filho de militar que o salvou

Reprodução
É print do arquivo.
Capa do jornal Folha de São Paulo em 31 de agosto de 1977

"Ele teve uma oportunidade de recomeçar há 39 anos. Agora, talvez, seja uma nova oportunidade de recomeço", afirmou Silvio Hollenbach Júnior, filho do sargento de mesmo nome que, em 1977, morreu ao salvar Adilson Florêncio da Costa, ex-diretor financeiro da Postalis, fundo de pensão dos Correios, preso na última semana na Operação Recomeço da Polícia Federal.

Nos anos 70, em Brasília, Adilson foi personagem de uma das histórias mais famosas da capital. Passeava no zoológico, então com 13 anos, quando tropeçou e caiu no poço das ariranhas, também conhecidas como onças-d'-água.

O sargento Silvio também estava no zoológico, prestes a ir embora com os filhos e a mulher. Ao ver o acidente, correu para socorrer o menino. Salvou-o, mas foi atacado pelos animais.

Ficou internado no Hospital das Forças Armadas, mas não resistiu a uma infecção generalizada causada pelas mordidas. O filho conta que ficou sabendo da prisão de Adilson pelas redes sociais e lamentou o destino dele.

Para Hollenbach Júnior, contudo, independente do que Adilson decidiu fazer com sua vida quando adulto, seu pai o salvaria novamente. "É como nos lembramos dele, com o orgulho dos atos de heroísmo já não tão vistos hoje em dia."

Mesmo após 39 anos, o filho do sargento que salvou o menino das ariranhas relata ainda que a família nunca foi procurada para agradecimento.

"Na verdade nunca foi cobrado, nem esperávamos que fosse feito contato de manifestação deles, até porque, logo após o falecimento do pai, voltamos para o Rio Grande do Sul. Moramos em Porto Alegre até quando me formei e depois voltei para Brasília."

Um dos casos mais emblemáticos da história da capital, a história das ariranhas é lembrada no nome do zoológico de Brasília, que homenageia Silvio Hollenbach. Ele também tem um busto no local.

PRISÃO

A Operação Recomeço, na qual Adilson foi preso, foi deflagrada na última sexta (24) pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal para apurar desvios bilionários de dinheiro dos fundos de pensão Postalis (Correios) e Petros (Petrobras). Foram expedidos sete mandados de prisão e foram autorizadas buscas no Rio, Brasília e São Paulo.

Os procuradores pediram e a juíza Adriana Alves dos Santos Cruz, da 5ª Vara Federal Criminal, aceitou o bloqueio de bens e investimentos financeiros de R$ 1,35 bilhão no Brasil e no exterior.

As investigações apuram a compra de R$ 100 milhões em debêntures (títulos mobiliários) do Grupo educacional Galileo com recursos dos fundos de pensão em 2010.

Na ocasião, o Grupo Galileo emitiu os debêntures para captar recursos a fim de recuperar a recém-adquirida Universidade Gama Filho, no Rio. As investigações encontraram indícios, no entanto, de que o dinheiro foi desviado para outros fins, em especial para contas bancárias dos investigados, de terceiros e de pessoas jurídicas relacionadas aos investigados, levando à falência da Gama Filho e da UniverCidade, também mantida pelo Grupo.

Em 2014, o MEC descredenciou a universidade interrompendo cursos como medicina.


Endereço da página:

Links no texto: