Folha de S. Paulo


Prisão de ex-ministro Paulo Bernardo é 'dolorosa', diz Temer

O presidente interino, Michel Temer (PMDB-SP), disse "lamentar muitíssimo" e classificar de "dolorosa" a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo (Comunicações), lembrando que sempre teve uma "ótima relação" com ele.

Em entrevista no Palácio do Planalto, Temer afirmou, porém, que as "decisões judiciais" precisam ser obedecidas. O petista foi preso pela Operação Custo Brasil, que investiga um esquema de corrupção na concessão de crédito consignado no Ministério do Planejamento.

Na entrevista, concedida a cinco jornais, ele afirmou que a Operação Lava Jato "está passando o Brasil a limpo" e, apesar de esperar que ela não continue indefinidamente, defendeu que seja mantida até tudo ser apurado. Segundo ele, "é claro que o país não pode ficar dez anos nesta situação, mas evidentemente que ela deve manter-se enquanto houver irregularidades".

O presidente voltou a repetir que, apesar de interino, trabalha como definitivo. "O que temos de fazer, nesta interinidade, é governar o país. Se lá em agosto [quando será julgado o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff] mudar, o país foi governado", afirmou.

Em relação ao risco de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassar, depois do julgamento do impeachment, a chapa completa, formada por ele e pela petista, o presidente interino primeiro disse que terá de respeitar a decisão do Judiciário. Depois, acrescentou que "tenho de pensar nos meus direitos" e defender a "tese da separação de contas" da presidente e do vice.

Temer disse ainda que tem falado com Eduardo Cunha –a ultima vez, segundo ele, foi há três semanas– sobre o "caso dramático dele", mas evitou fazer avaliações sobre o futuro do colega de partido.

O peemedebista voltou a dizer que não recorda de ter se encontrado com Sérgio Machado, delator que o mencionou, e destacou que não precisava da intermediação do ex-presidente da Transpetro para levantar recursos para campanhas. "Conheço muitos empresários, poderia pedir diretamente".

BREXIT

Também nesta sexta (24), em entrevista à Rádio Estadão, o interino evitou comentar o resultado do plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.

"Nós achamos que a Inglaterra [também fazem parte do Reino Unido Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte] decidiu por uma consulta popular e não vamos discutir. Precisamos verificar as repercussões econômicas para o Brasil", disse Temer, defendendo que a política externa de seu governo "se pauta pela soberania nacional".

"O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai se encontrar hoje com um representante do governo britânico para discutir essas questões. Vamos esperar os acontecimentos", afirmou.

MERCOSUL

Temer também defendeu, na entrevista, que o Brasil tem que rever sua relação com o Mercosul.

"O Brasil muitas vezes tem dificuldade de fazer um acordo tarifário porque está preso aos compromissos do Mercosul", afirmou. "Neste momento temos que rediscutir o Mercosul, não para eliminá-lo, mas para dar uma diretriz mais segura nessa tese da universalização da relação com outros países."

Temer ainda classificou de "ideológica" a política externa praticada no governo de Dilma Rousseff, o que era "inaceitável", e disse que pretende ter uma relação igualitária com todos os outros países.

O Ministério das Relações Exteriores discute a possibilidade de revogar uma decisão do Mercosul, para permitir que o Brasil possa negociar acordos bilaterais de livre-comércio de forma independente, sem os outros membros do bloco.


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