Folha de S. Paulo


Mistério de morte de PC e namorada se estende à arma utilizada no crime

Itawi Albuquerque - 9.mai.2013/Futura Press/Folhapress
O legista Daniel Muñoz com réplica da arma durante o julgamento do caso em 2013
O legista Daniel Muñoz com réplica da arma durante o julgamento do caso em 2013

Procura-se o revólver Rossi calibre.38, registro W 338 880, ano de fabricação 1995.

20 anos completados nesta quinta (23), dois tiros saídos desta arma deram início a um dos mais misteriosos crimes do país: o assassinato de Paulo César Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino, numa casa de praia em Maceió. Cada um recebeu um disparo no peito.

Duas décadas depois, porém, a Justiça alagoana não sabe dizer onde está a arma. Ela passou de mão em mão desde que saiu da fábrica.

Em 1996, a empresa Amadeo Rossi confirmou que havia vendido o revólver para a Polícia Militar de Alagoas. O primeiro dono foi o PM José Adolfo da Silva. Pagou R$ 216 em quatro cheques de R$ 54.

Ele não poderia ter revendido a arma, mas o fez. "Vendi porque estava precisando de dinheiro. Os salários estavam atrasados", afirmou o soldado à Folha, em 1996.

Sem condições de quitar o Rossi, ele o passou a um conhecido, que o repassou a um primo, Luiz Albuquerque Ponte Júnior, funcionário da Prefeitura de Atalaia, cidade a cerca de 50 km de Maceió.

Por R$ 300, o revólver acabou nas mãos de José Jefferson Calheiros de Medeiros, filho do prefeito de Atalaia.

Dono de uma churrascaria, Medeiros decidiu presentear a mulher, Mônica, com a arma. Em 14 de junho de 1996, Suzana, acompanhada de uma prima, foi à churrascaria. Assinou um cheque de R$ 350, deu alguns tiros como teste e levou o.38 para casa. A compra aconteceu nove dias antes das mortes.

Quando os corpos do tesoureiro de campanha de Collor e de sua namorada foram achados, a arma estava na cama, entre os dois. Não havia impressões digitais nela.

Juca Varella/Folhapress
Veja especial da Folha sobre os 20 anos do assassinato de PC Farias
Veja especial da Folha sobre os 20 anos do assassinato de PC Farias

Isso foi abordado tanto pela defesa quanto pela acusação. Peritos disseram que, em 95% dos casos, marcas de dedos não permanecem em condições de serem analisadas.

A Promotoria rebateu: especificamente nesse tipo de revólver, em 100% dos casos, pelo menos uma digital de quem a segura fica impressa.

Para a defesa dos ex-seguranças de PC, indiciados por coautoria no duplo homicídio, o fato de Suzana ter comprado a arma prova que ela tinha intenção de matar o namorado. A acusação diz que ela foi induzida a acreditar que estava sendo perseguida e que precisava se proteger.

Em maio de 2013, quando os quatro ex-seguranças foram a júri, a Promotoria quis exibir a arma durante o julgamento. Não foi encontrada.

Descobriu-se depois que parte do armamento guardado na central de custódia de armas e munições do fórum de Maceió havia desaparecido. Gilberto Pitágoras, funcionário terceirizado, foi preso em dezembro de 2014 acusado de revender as armas.

O advogado Saulo Madeiro de Araújo diz que Pitágoras, seu cliente, nega o crime. Foi o funcionário que criou, entre 2008 e 2011, o sistema de cadastro da armas do fórum e recebeu menção num prêmio por isso, diz Araújo.

O caso ainda não foi julgado. O ex-funcionário, que hoje trabalha numa prefeitura no interior alagoano, responde em liberdade. Do Rossi, que estaria no bolo das armas desviadas, nem sinal até hoje.

20 anos da morte de PC Farias


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