Folha de S. Paulo


Aliados articulam punição mais branda e até renúncia de Cunha

Às vésperas da possível votação pelo Conselho de Ética do relatório que pede a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aliados do peemedebista centraram suas articulações em três frentes para tentar livrá-lo da perda do mandato.

A mais urgente prevê a aprovação de uma punição mais branda para Cunha, a suspensão do mandato por três meses, por uma vitória apertada no colegiado nesta terça (14). Hoje, há uma estreita maioria de 10 a 9 a favor de Cunha, mas o voto decisivo está nas mãos da deputada Tia Eron (PRB-BA).

Na noite desta segunda (13), parlamentares apostavam suas fichas no cenário mais favorável ao peemedebista, em que Tia Eron ceda às pressões de sua sigla e vote a favor do peemedebista. Com ela, Cunha se livra do parecer pela cassação por 11 votos a 9.

O PRB tem um ministério no governo interino de Michel Temer. Nos bastidores, a avaliação é de que a ação do Planalto sobre a cúpula do PRB foi preponderante para mobilizar a pressão da legenda sobre Tia Eron.

Se Eron votar contra Cunha, haverá empate e o voto de minerva caberá ao presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), desafeto declarado do peemedebista.

Se conseguir se salvar no colegiado, Cunha dará início à segunda articulação, que prevê alterações pela Comissão de Constituição e Justiça nas regras de cassação de mandato. O parecer aprovado pelo Conselho de Ética deve, em tese, ser submetido ao plenário, que pelas regras atuais é soberano para confirmar ou não a decisão.

Se o Conselho aprovar a cassação, por exemplo, Cunha só perde o mandato se o plenário da Câmara confirmar esse parecer com o voto de pelo menos 257 dos 513 deputados. Se a punição for branda, há divergência sobre se o caso vai ou não para o plenário.

De todo modo, Cunha quer garantir que, uma vez penalizado apenas com a suspensão do mandato, os deputados não possam rejeitar essa decisão para votar, em sequência, o pedido inicial, que é pela cassação.

Nesse esforço se dá a terceira linha de atuação, na qual aliados que passaram a ventilar que ele poderá renunciar à presidência da Casa, em troca do apoio da maioria dos deputados pela manutenção do mandato.

Carlos Marun (PMDB-MS), linha de frente da defesa de Cunha, vem acenando nessa direção desde a semana passada, mas, publicamente, garante ainda não ter conversado com Cunha sobre o assunto. "Penso que vai ser o melhor para ele", afirmou.

"Ele não aceitou de forma alguma discutir isso. Agora, mais fragilizado, já passou um tempo, ele já tem um serviço prestado à Casa e ao país por ter sido o comandante do processo de impeachment, pode ser que me ouça", disse Marun. Cunha tem dito que não cogita a renúncia.

Ele, no entanto, evitou fazer críticas ou rebater publicamente os "conselhos" dados pelo aliado. Pessoas próximas avaliam que Marun não faria gestos nesse sentido sem antes conversar com o peemedebista.

Há ainda uma avaliação de que, juridicamente, seria melhor que Cunha renunciasse para se defender das denúncias que correm contra ele no STF (Supremo Tribunal Federal). Uma das acusações é a de que ele usa o cargo para manipular e coibir investigações.


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