Folha de S. Paulo


Delator da Lava Jato cita compra pela emenda da reeleição durante era FHC

O ex-deputado federal Pedro Corrêa (PE), preso em Curitiba pela Operação Lava Jato, dedicou parte do seu acordo de delação premiada ao episódio da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1997.

De acordo com Corrêa, que foi presidente do PP e líder do partido na Câmara, além de um dos condenados no processo do mensalão, a aprovação da emenda foi "um dos momentos mais espúrios" que presenciou durante sua carreira política.

A informação foi veiculada pelo jornal "O Estado de S.Paulo" nesta quarta-feira (1º).

De acordo com um trecho da delação divulgado pelo jornal, Corrêa relatou que o então ministro das Comunicações, Sérgio Mota, liderou o esforço pela aprovação da emenda, junto com o então presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL) –ambos mortos em 1998.

Também teria participado da articulação o atual líder do DEM na Câmara, deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) –que rechaçou a acusação em nota.

Segundo Corrêa, deputados receberam até R$ 200 mil para votar a favor da reeleição.

O delator afirma, no mesmo documento, que liderou um movimento contrário: pagar propina a parlamentares para que votassem contra a proposta.

Ele diz que contou com a ajuda do deputado Paulo Maluf (PP-SP), na época recém-saído da Prefeitura de São Paulo, para bancar a propina. Maluf não quis comentar a acusação, e disse, por meio de sua assessoria, que "o favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso, com sua reeleição; é ele que deve ser ouvido".

O delator também cita, conforme a Folha já havia noticiado, que o empresário Olavo Setubal, do banco Itaú, teria dado apoio financeiro no Congresso.

"Olavo Setubal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar, para que se encaminhassem a um doleiro em Brasília e recebessem propinas em dólares americanos", informa o documento.

A delação de Corrêa ainda precisa ser homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O ex-deputado, que já foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo juiz Sergio Moro, permanece preso na sede da Polícia Federal em Curitiba.

OUTRO LADO

Em nota enviada ao "Estado de S.Paulo", Fernando Henrique Cardoso afirma que Corrêa "apenas repete o que foi veiculado na época", e que já registrou sua "pronta repulsa" sobre o episódio no seu livro de memórias, "Diários da Presidência".

Na obra, Fernando Henrique afirma que o episódio foi "uma questão do Congresso" e "ridículo".

O deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), em nota, negou as acusações de Corrêa, a quem chamou de "um autointitulado corrupto". "Não responderei aos bandidos e ladrões do dinheiro público", declarou.

O presidente do Itaú, Roberto Setubal, afirmou em nota que fica "profundamente indignado" ao ver o nome do pai dele, Olavo Setubal, "absurdamente envolvido numa história sem comprovações".

Segundo ele, não há "nenhum indício de que essa história possa ter fundamento".


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