Folha de S. Paulo


Ex-governador de RR diz que juiz é aliado de Jucá e que o persegue

Saulo Cruz - 12.ago.2009/Agência Câmara
O ex-governador e ex-deputado Neudo Campos (PP), de Roraima

Preso há um dia na sede da Superintendência da Polícia Federal, o ex-governador de Roraima Neudo Campos (PP) afirmou durante audiência de custódia nesta quarta-feira (25) que sofre "perseguição pessoal e implacável" do juiz Helder Girão Barreto, titular da 1ª Vara do TRF (Tribunal Regional Federal) em Boa Vista.

Segundo Campos, o magistrado é aliado do senador Romero Jucá (PMDB), que deixou o Ministério do Planejamento na segunda (23) após a Folha revelar conversas dele falando em pacto para reter a Operação Lava Jato.

"Não tem ninguém do lado do Jucá que esteja preso, que tenha participado [do escândalo] dos gafanhotos", disse. O juiz não quis se pronunciar sobre as acusações.

Campos foi condenado a 10 anos e 8 meses de reclusão por envolvimento num esquema –conhecido como escândalo dos gafanhotos– que desviava recursos provenientes de convênios da União em 2002, quando ele era governador. Marido da atual governadora Suely Campos (PP), ele estava foragido desde quinta (19) e se entregou na terça (24).

Após a audiência, ele concedeu entrevista coletiva. "Eu sou inocente de tudo que me acusam. Eu desafio alguém a provar o que foi que eu roubei. No que foi que aumentou o meu patrimônio? Ao juiz Helder Girão Barreto, comprovadamente, falta isenção para me julgar", disse.

O ex-governador disse que ficou foragido porque acreditava que conseguiria um habeas corpus, assim como ocorreu nos três últimos pedidos de prisão.

Nesta quarta, a defesa de Campos solicitou prisão domiciliar do ex-governador alegando situação grave de saúde. Segundo Campos, além de problemas na coluna e hipertensão, ele disse ter câncer de pele. O pedido, feito durante a audiência, será analisado pelo juiz Barreto.

'PF SUGERE INTERVENÇÃO'

Investigações da PF apontam que políticos e servidores públicos do governo de RR usaram "aparato estatal para proteção de um criminoso procurado pela Justiça", diz nota da corporação sobre Campos.

Eles são suspeitos de ajudar o ex-governador numa tentativa frustrada de fuga para a Venezuela. Quatro PMs e uma secretária de Estado foram presos. Seus nomes não foram divulgados.

O delegado da Policia Federal em Roraima, Alan Robson, disse à Folha que tem 15 dias para concluir as investigações e entregá-las ao Ministério Público Federal. Segundo ele, poderão ser utilizadas para instruir ações de improbidade administrativa, processos administrativos disciplinares e representação interventiva no Estado, medidas que podem culminar no afastamento de políticos eventualmente envolvidos nas práticas investigadas.

"As ações interventivas, processos disciplinares contra os militares junto aos seus superiores, ações de improbidade, quem entra é o Ministério Público Federal ou a Procuradoria do Estado", disse.

Conforme a PF, os investigados atuaram com objetivo de remover Campos de Boa Vista para a Venezuela. Foram impedidos, disse o delegado, graças à Operação Ryan, deflagrada na terça (24).

O nome da operação remete ao codinome utilizado por alguns dos servidores públicos investigados para o ex-governador.

OUTRO LADO

A Secretaria de Comunicação do governo de RR informou que aguarda posição da Procuradoria-Geral do Estado para saber as providências a serem adotadas pelo Estado sobre a atuação dos PMs, da secretária de Estado e do uso do aparato do Estado para supostamente favorecer Campos.

Em entrevista coletiva na terça, o secretário de Segurança Pública, Paulo César Costa, disse que foram corretas as providências adotadas no episódio da apresentação de Campos. Afirmou ainda que a Casa Militar tem o dever de proporcionar segurança à governadora e seus familiares.

"Sei que entre as atribuições e tarefas da Casa Militar está o dever e a obrigação de proporcionar segurança à chefe do Executivo e seus familiares. Ao que consta, o senhor Neudo Campos é esposo da governadora", disse o secretário.

O governo afirma ainda que "não foi notificado acerca de quaisquer quaisquer investigações ou procedimentos sobre suposto uso do aparato estatal para práticas delituosas."

"Havendo indícios de conduta incompatível de servidores públicos no episódio, serão instaurados os procedimentos administrativos disciplinares de praxe, pois não houve qualquer ordem do Executivo Estadual para a pratica de atos incompatíveis com os princípios da administração pública", diz nota do governo de Roraima.


Endereço da página:

Links no texto: