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Sociedade 'está prontinha para o universo fascista', diz Chauí

Folhapress
A professora da USP Marilena Chauí, durante debate em 2013
A professora titular de filosofia da USP Marilena Chauí, durante debate em 2013

A professora titular de filosofia da USP Marilena Chauí afirmou, nesta quinta-feira (19), que a sociedade brasileira "está prontinha, acabadinha para o universo fascista".

Em um debate realizado em São Paulo, a docente disse que o afastamento da presidente Dilma Rousseff, que ela considera um golpe de Estado, e a "Ponte para o Futuro" (programa de governo proposto pelo PMDB), que ela chamou de "pinguela para o passado", abrem um "campo no qual nenhuma possibilidade sequer de liberalismo ou de democracia estão garantidas".

"É uma autocracia total. Por enquanto, o que é triste é que o autocrata não possui a imagem adequada. Uma figura como [o presidente interino] Michel Temer, realmente, é risível, mas a ideia é que você tenha um chefe", afirmou.

Chauí disse que, quando tucanos foram hostilizados em manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, tornou-se claro o motivo pelo qual "os coxinhas vestidos de verde e amarelo" estavam insatisfeitos.

"A resposta veio 3 ou 4 minutos depois, quando começou um grito 'viva o Bolsonaro'. Eu diria que é um país tão infeliz que nós não conseguimos ter uma figura de autocrata capaz de preencher o papel, porque mesmo um cara como o [deputado federal Jair] Bolsonaro (PSC-RJ), que pode preencher esse lugar, tem um grau de pequenez tão ridículo que dificulta."

Ao apontar para o que ela entende como risco à democracia, a professora citou "essa coisa fascista que é o verde-amarelismo dos coxinhas", a "operação cotidiana, minuciosa que foi feita no campo ideológico de convencimento da teologia da prosperidade, da ideologia do empreendedorismo e, em particular, da concepção neoliberal do individualismo como competição bem-sucedida".

Segundo Chauí, "a ideologia do empreendedorismo infelizmente não é só da bancada da bíblia. A quantidade de petistas que eu vi defendendo e propondo seminários sobre empreendedorismo, debates sobre empreendedorismo, a questão do empreendedorismo... Dá vontade de chorar, de pegar um punhal e enfiar na goela das pessoas. Também, depois de tudo o que aconteceu, dá para entender por que os petistas falam, falamos, falaram e falaremos".

MINISTÉRIO DA CULTURA

A professora afirmou que a extinção do Ministério da Cultura tem "um motivo aparente e um motivo real".

O motivo aparente é o enxugamento do Estado. O motivo real é a "disputa ideológica" entre "reduzir a cultura às Belas Artes ou às Sete Artes" e a maneira de pensá-la como "cidadania cultural", fomentada pelos pontos de cultura.

"Não vou dizer que Michel Temer sabe disso, ele é muito ignorante, não faz ideia. Assopraram para ele que era para cortar e ele cortou. Se for lá e perguntar, ele vai dizer que é só questão de enxugamento e redução de gastos. Mas quem mandou ele cortar sabe o que está fazendo", acusou Chauí sem especificar quem seria o idealizador da medida.

Ela também mencionou projetos de lei da chamada bancada do boi, da bala e da bíblia que preveem a "revogação de todos os direitos sociais e trabalhistas, conquistados desde os governos de FHC, Lula e Dilma" como a redução da maioridade penal, a lei antiterrorismo e a "destruição" do Estatuto do Desarmamento.


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