Folha de S. Paulo


Presidente do PT quer 'reação a golpe' e chama governo Temer de 'usurpador'

Em texto divulgado nesta segunda-feira (16), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, classificou o governo interino de Michel Temer de "usurpador" e convocou uma "reação popular" ao que chama de "golpe" contra o mandato de Dilma Rousseff.

"Mal começou e o governo usurpador confirma o que já prevíamos", escreveu o presidente petista. Segundo ele, Temer tem disposição para "avançar em privatizações, rever políticas sociais e de reforma agrária, bem como acabar com o multilateralismo da política externa brasileira".

"Num ministério sem mulheres e negros, com vários ministros investigados por corrupção, a revogação de direitos não se resume à reforma da Previdência, com fixação de idade mínima", completou Falcão.

O texto reflete a tônica das discussões que vão permear as reuniões em Brasília da executiva e do diretório nacional do PT, nesta segunda (16) e terça-feira (17), respectivamente.

É a primeira vez que a cúpula da legenda se reúne após o afastamento de Dilma e quer traçar um plano de oposição ao governo Temer e de mobilização para a defesa do mandato da presidente agora afastada.

Convidado para o encontro de terça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que não comparecerá ao evento. Segundo aliados, Lula está muito cansado e "quer se preservar".

Uma das propostas que deve ser discutida nas reuniões é que, para as eleições municipais deste ano, o PT só feche aliança com partidos que não estejam na base do governo Temer e que se posicionem, inclusive, contra a gestão do peemedebista.

Falcão ainda acusa Temer de ameaçar retaliar as entidades, partidos e movimentos sociais que "se opõem ao golpe" e convoca-os para uma "reação popular".

Para o dirigente petista, é preciso fazer uma "oposição firme e consistente" e diz que o PT "continuará alinhado com os partidos, frentes e movimentos do 'Não ao Golpe. Fora Temer!', participando e organizando atos, eventos e manifestações em defesa da democracia, da Justiça e do Estado de Direito".

A reunião da executiva, nesta segunda em Brasília, reúne Falcão e outros dirigentes da cúpula petista e é uma espécie de preparação para o encontro de terça, do diretório nacional, que contará com os 84 integrantes da instância partidária, além de governadores e ex-ministros da legenda.

HUMBERTO COSTA

Após participar da primeira parte da reunião da executiva, o ex-líder do governo no Senado Humberto Costa (PT-PE) disse que o partido precisa "continuar a luta" para fazer com que a presidente afastada retome seu mandato no final do julgamento pela Casa.

Segundo o senador, a cúpula do partido deve divulgar uma resolução reforçando a ideia de que o governo Temer aplicou um "golpe" e pedindo a saída do presidente interino do cargo, além de convocar uma mobilização da militância petista e dos movimentos sociais contra Temer e em defesa do mandato de Dilma.

"É possível identificar um pensamento único que temos que continuar a nossa luta e acabar com essa tentativa de golpe", disse Costa. "Também houve um consenso absoluto em relação à fragilidade desse governo interino, seu caráter anti-popular e o feitio que ele toma de ser um governo não afeito a diversidade, e comprometido com a retirada de direitos sociais", completou o senador.

O PT ainda está bastante dividido sobre como se comportar na oposição a Temer e preocupa dirigentes do partido a ideia de ter somente as bandeiras do "golpe" e "Fora, Temer" para empunhar durante o julgamento e afastamento de Dilma, que pode durar até 180 dias.

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Confira a seguir a íntegra do texto de Rui Falcão:

"Mal começou e o governo usurpador confirma o que já prevíamos. Em sua primeira entrevista – e na de alguns ministros – o presidente interino anuncia a disposição de avançar em privatizações, em rever políticas sociais e de reforma agrária, bem como de acabar com o multilateralismo da política externa brasileira, retornando à dependência dos Estados Unidos.

Num ministério sem mulheres e negros, com vários ministros investigados por corrupção, a revogação de direitos não se resume à reforma da Previdência, com fixação de idade mínima.

Transparece também na fala do interino da Fazenda, quando informa que pretende desobrigar União, Estados e Municípios de investirem os percentuais mínimos de recursos na saúde e na educação. O desmonte da seguridade social (saúde, assistência social e previdência) faz parte do programa neoliberal "Uma Ponte para o Futuro".

Causam indignação, ainda, as ameaças de retaliação às entidades, partidos e movimentos que se opõem ao golpe. CPI e retomada do prédio da UNE, cancelamento de recursos para o MST, sufocamento dos blogueiros e aí por diante, a revelar o caráter repressivo dos ocupantes provisórios do Planalto.

A reação popular ao golpe continua e as manifestações de protesto e denúncia devem prosseguir. Nas instituições, a oposição firme e consistente deve combinar uma pressão de convencimento aos senadores, a fim de que não convalidem, no exame do mérito, um impeachment sem base legal, repudiado inclusive por milhares de juristas, por governos progressistas e por veículos da mídia internacional.

O PT continuará alinhado com os partidos, frentes e movimentos do "Não ao Golpe. Fora Temer!", participando e organizando atos, eventos e manifestações em defesa da democracia, da Justiça e do Estado de Direito

Rui Falcão".


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