Folha de S. Paulo


Expectativa sobre governo Temer lembra Itamar Franco

Presidente afastada

Ao contrário do que possa sugerir, a desconfiança de grande parcela dos brasileiros com Michel Temer pode não ser má notícia para ele. Pelo menos é o que sugere histórico de expectativas de governo feitas pelo Datafolha desde Fernando Collor.

Altos índices de otimismo dificilmente se convertem em elevada aprovação no final do mandato. E a distância entre grandes expectativas e baixa satisfação costuma representar a frustação de parcela importante do eleitorado.

Dos presidentes escolhidos nas urnas, apenas Lula, e só no segundo mandato –com recorde de popularidade de 83%–, conseguiu superar a expectativa de gestão ótima ou boa após sua vitória em 2002. FHC terminou seus dois mandatos com índices de popularidade abaixo da performance esperada.

Evolução da economia

Sob esse aspecto, os desempenhos de Collor e Dilma têm comportamento parecido. Antes da posse, apostavam no "Caçador de Marajás" 71% dos brasileiros e na "Mãe do PAC", em seu primeiro mandato, 73%. Quando impedido pela Câmara, o atual senador era aprovado por 9%; a presidente, por 13%.

Pela semelhança de cenários, a melhor comparação com Temer vêm dos escores de Itamar Franco. O vice de Collor assumiu sob turbulências econômicas e políticas, com expectativa positiva de apenas 18% –a de Temer é 16%. Em 1994, com a implantação do Plano Real, elegeu seu sucessor e fechou o mandato com 41% de popularidade– um saldo positivo recorde já que tinha grande espaço para crescimento.

Para chegar a esse patamar junto à opinião pública, Temer deve logo sinalizar que fará o que Dilma não fez –revisitar as propostas da campanha eleitoral. Ações urgentes na área econômica são fundamentais, mas não só. Mesmo que impopulares, deveriam paradoxalmente sinalizar a continuidade do processo de ascensão social, determinante para a vitória da petista.

Às vésperas do segundo turno em 2014, o Datafolha mostrava que a imagem de Dilma, associada à estabilidade econômica, preocupação com os pobres e políticas de educação garantiram sua reeleição. A impopularidade da petista disparou quando o governo, no início do segundo mandato, emitiu sinais de que isso não aconteceria.

PT no poder

Os desdobramentos da Lava Jato só potencializaram essa frustração entre seus eleitores e elevaram a revolta de outro estrato –a classe média alta que, tradicionalmente refratária ao PT, saiu às ruas em mobilização histórica. Com a corrupção elevada ao topo no ranking de problemas do país, a atenção da opinião pública se volta agora para o comportamento de Temer sobre o quanto as instituições serão preservadas, sem tentativas de ingerência do Executivo.

Se dívida pública recorde, resistência a ajuste fiscal, recessão econômica, crise política e corrupção epidêmica formatam um quadro desolador para Temer, Itamar não deixa de ser novamente referência. Hiperinflação, plebiscito sobre sistema de governo, escândalo dos "anões do orçamento" e indexação monetária não configuravam uma situação confortável. Caso Dilma seja afastada definitivamente e o peemedebista consiga repetir a atuação do mineiro, a pergunta que fica é –se a "República do Pão de Queijo" alavancou FHC, quem sairá candidato do governo Temer para 2018?

PT, 13 anos no poder


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