Folha de S. Paulo


Análise

Temer acena a todos, mas mira o Congresso

O primeiro discurso de Michel Temer (PMDB) como presidente interino nesta quinta (12) foi marcado pela tentativa de agradar a todos os atores deste momento de transição política, mas a deferência principal foi em direção ao Congresso Nacional.

Em boa parte de suas intervenções, o peemedebista enalteceu a importância do diálogo entre Executivo e Legislativo, em especial quando enumerou um programa amplo que embasará sua agenda congressual.

Após cinco anos e quatro meses implorando por atenção do Planalto, parlamentares ouviram música nas palavras do novo inquilino do palácio. A formação de seu ministério, em que egressos do Congresso são maioria, serve para embasar as intenções enunciadas até aqui.

Se vai dar certo, é outra história. Como o próprio Temer disse, "não será fácil". Mas é o caminho que o peemedebista escolheu para tentar viabilizar seu começo de governo, buscando fugir de desastres que poderiam influenciar uma reversão da sorte de Dilma Rousseff (PT) –hoje virtualmente cassada, a julgar pelo resultado da votação pela abertura do processo de impeachment no Senado.

Não faltaram acenos para todos os lados. Como previsto, o presidente interino focou nas questões econômicas, prometeu manter programas sociais e defendeu a Operação Lava Jato. Inseriu "trabalhadores" ao lado dos "empresários", ainda que de forma meramente protocolar.

Acusado de golpista pelos petistas suspensos do poder, evocou Eurico Gaspar Dutra (presidente entre 1946 e 1951) ao lembrar que buscará fazer tudo de olho "no que diz o livrinho", a Constituição.

Insistiu, ressalvando saber que não será unanimidade, na ideia ultrapassada a anódina de "salvação nacional". Teve mais sucesso ao enunciar a necessidade de "início de diálogo" e ao se direcionar aos manifestantes que tomaram as ruas em 2013 ao prometer atender aqueles que buscam "eficiência dos serviços públicos".

Sobrou até para Dilma, que não deve ter acompanhado exatamente com satisfação a confusa cerimônia no palácio que desocupara pela manhã, quando Temer fez jus à fama de elegante e pediu "respeito institucional à senhora presidente".

Certamente os adversários vão considerar a mesura tardia ou hipócrita, mas não deixa de ser uma novidade nas manifestações públicas naquele ambiente.


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