Folha de S. Paulo


Análise

Depois de tropeços, Temer terá de provar fama de bom articulador político

Mais do que nunca, Michel Temer terá de provar, agora na Presidência da República, sua capacidade de costurar apoios políticos para se firmar no cargo que assume, a princípio, interinamente.

Os tropeços na fase de montagem de sua equipe ministerial criaram atritos entre seus aliados e geraram as primeiras críticas, ainda tímidas e bem reservadas.

Mas o placar da sessão do Senado desta quinta-feira (12), que superou a marca dos dois terços de senadores ao determinar o afastamento da presidente Dilma, foi um gesto de força política.

Nas palavras de um assessor, Temer já assume a Presidência pressionado pelo momento de grave crise política e econômica. Estaria ainda mais sob pressão caso o resultado do Senado não tivesse sido tão favorável.

Agora, o peemedebista acredita chegar ao poder com certa tranquilidade para cumprir o que considera sua principal missão: fazer a economia voltar a crescer.

Para isto, dependerá de votos no Congresso para aprovar medidas que possam reequilibrar as contas públicas, hoje no vermelho, e recuperar a confiança no país.

Os tropeços dos últimos dias, segundo aliados, foram normais para um período delicado, quando ele ainda não era presidente e precisava montar sua equipe.

Mesmo assim, para um profissional da política, chegou a cometer erros de amador. Como escolher para Ciência e Tecnologia um bispo licenciado e ser obrigado a recuar diante das críticas da comunidade científica.

Ou pensar num amigo, crítico da Operação Lava Jato, para ser ministro da Justiça, exatamente a pasta que comanda a Polícia Federal.

E deve tomar posse sem ainda ter definido o ministro da cota dos senadores do PMDB. Até a manhã desta quinta, Temer só havia definido que seus colegas do Senado ficarão com a pasta da Integração Nacional.

Naquela casa a costura política é fundamental por dois motivos. Primeiro, atrair de vez para seu lado o presidente do Senado, Renan Calheiros, essencial para aprovar suas medidas econômicas.

Segundo, garantir os votos necessários para, no julgamento da presidente Dilma Rousseff, decretar seu afastamento definitivo.

A equipe de Temer sabe que terá de enfrentar obstáculos na articulação política. Precisa solucionar urgentemente o problema da presidência da Câmara dos Deputados, onde seu desejo é desalojar o atrapalhado Waldir Maranhão (PP-MA) e colocar um aliado no posto.

E precisa cuidar do Senado, Casa onde nunca teve muito trânsito. Enxergou, porém, como bom presságio o resultado da sessão que terminou às 6h30 desta quinta-feira e determinou o afastamento por até 180 dias da presidente petista.

Temer e seus assessores haviam colocado como meta superar os 54 votos já nesta fase, dois terços do Senado Federal, número suficiente para condenar a petista e garantir a posse definitiva do peemedebista.

O vice superou o objetivo em um voto. O placar final, de 55 votos pela admissibilidade do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, foi comemorado e dá força política ao novo presidente para começar a governar.

Fato celebrado por sua equipe, diante da realidade de que o peemedebista chega ao Palácio do Planalto não pelo caminho das urnas, mas pelas contingências do fracasso do governo petista.

Em busca do apoio das ruas, Temer quer dar respostas rápidas de que lançará as bases para superar a atual crise, mas sabe que os efeitos virão apenas no médio prazo.

Aposta suas fichas em Henrique Meirelles à frente do Ministério da Fazenda, o ministro sempre defendido pelo ex-presidente Lula e renegado pela presidente afastada Dilma Rousseff.

Enfim, como o próprio presidente interino Michel Temer reconhece, agora começa a fase mais difícil. A de conquistar a confiança e a credibilidade da população. Sabe que tem pouco tempo e não pode cometer tantos erros como sua antecessora. A conferir.


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