Folha de S. Paulo


Cortes previstos por Temer em ministérios viram alvo de críticas

Pedro Ladeira - 25.abr.2016/Folhapress
Vice-presidente Michel Temer (PMDB) deixa seu gabinete após reunião com parlamentares e lideranças partidárias em Brasília
Vice-presidente Michel Temer (PMDB) deixa seu gabinete após reunião com parlamentares e lideranças partidárias em Brasília

A extinção de ao menos dez ministérios em eventual governo Michel Temer (PMDB) gerou críticas entre setores envolvidos nos cortes.

O desmembramento do Ministério do Trabalho, que deixaria a reforma da Previdência a cargo da Fazenda, prejudicará trabalhadores, afirmam centrais sindicais.

"É como deixar a raposa cuidar dos ovos no galinheiro", disse Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores).

A esperada nomeação de Henrique Meirelles para a Fazenda reforça essa expectativa, afirmou Douglas Izzo, presidente da CUT-SP (Central Única dos Trabalhadores).

"Ele não tem visão de bem-estar social. Sabemos o que vai prevalecer", disse.

A incorporação das secretarias especiais de Portos e Aviação Civil aos Transportes pioraria a interlocução do setor com o governo, segundo Wilen Manteli, diretor-presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários. "Tínhamos um fórum para nossas propostas."

A eventual fusão da Secretaria de Direitos Humanos com o Ministério da Justiça foi recebida com indignação.

"É um retrocesso, não apenas simbólico, mas com consequências operacionais", afirmou José Gregori, primeiro titular da pasta, criada em 1997, por Fernando Henrique Cardoso. "O tema não tem a prioridade que merece na sociedade nem na consciência política brasileira."

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Para Paulo Sérgio Pinheiro, também secretário de Direitos Humanos de FHC, a fusão seria "absolutamente gagá, reacionária e retrógrada". Vai na contramão da tendência nacional e internacional de tratar a questão de forma especializada, argumentou.

A esperada nomeação de Alexandre de Moraes, secretário de Segurança de SP, como ministro da Justiça e Cidadania é "assustadora", afirmou a professora Heloisa Buarque de Almeida, da USP.

Segundo ela, Moraes maquia dados sobre a violência no Estado e tem ação policial considerada truculenta, sinalizando uma gestão que não preza os direitos humanos.

"Chamar manifestações de 'guerrilha' é um jeito de criminalizar movimentos sociais. Não dar acesso a dados nos impede de fazer pesquisa e propor políticas públicas", declarou.

A proposta de fundir o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações foi interpretada como rebaixamento pela comunidade científica.

Para o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, reflete uma "lógica de dono de padaria". "Um país em crise deveria tentar aumentar sua receita com inovação, não apenas cortar gastos", afirmou.

Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, criticou a falta de diálogo.

"Ninguém foi procurado. É um mau sinal."

A incorporação do Ministério da Cultura à Educação é vista com cautela por Luis Terepins, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

"Depende mais de como você conduz. Ter um Ministério da Cultura é bom, mas o que mais vale é você ter uma boa política, boas pessoas, uma estrutura eficiente."


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