Folha de S. Paulo


Medida que prevê acordo de leniência para empresas perde efeito neste mês

Editada no fim do ano passado para tentar salvar as empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, a Medida Provisória dos Acordos de Leniência vai perder seus efeitos por não ter sido aprovada pelo Congresso.

Numa derradeira tentativa de aprovar o texto, o relator da comissão de análise da medida no Congresso, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), colocou seu parecer em votação nesta terça-feira (10) na comissão. Mas, sem acordo com opositores da medida, não houve aprovação da MP. Para uma MP ser aprovada, ela tem que passar nesta comissão prévia e pelos plenários da Câmara e do Senado. Essa medida perde a validade no fim do mês.

"Agora ela vai perder a validade", afirmou Teixeira.

Os acordos de leniência são uma espécie de delação premiada para as empresas. A companhia confessa delitos cometidos contra a administração pública em troca de benefícios. O maior deles é o de não perder o direito de participar de concorrências com toda a administração pública por até cinco anos.

A lei que disciplina esses acordos foi criada em 2013. Ele permitia os acordos com todos os entes públicos, mas impunha algumas restrições, como a fiscalização pelos órgãos de controle ao longo do processo e que somente a primeira empresa que confessasse um delito cometido por várias companhias teria direito ao benefício.

Com o caso da Lava Jato, o governo se viu impossibilitado de fechar acordos com nove grandes empresas que haviam pedido o benefício ao longo de 2015 e 2016. Foi então editada a medida provisória, que também excluiu o controle prévio do TCU (Tribunal de Contas da União) e do Ministério Público, além de abrir a possibilidade da reparação dos danos cometidos reduzida.

A medida foi criticada por integrantes dos órgãos de controle e o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, chegou a declarar que ela é inconstitucional. A oposição no Congresso também foi contra a medida, principalmente pela exclusão dos órgãos de controle na análise prévia dos acordos.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) afirmou que a oposição vai continuar trabalhando para que a MP perca a validade. Segundo ele, os partidos entraram com um projeto de lei hoje na Câmara para modificar a Lei de 2013, mantendo a fiscalização prévia dos órgãos de controle mas permitindo que mais de uma empresa possa ter os acordos aceitos.

"Não há problema nenhum nisso", afirmou Lorenzoni.

O fato é que, quando a MP perder a validade, o que deve ocorrer no fim deste mês, somente a primeira empresa que pediu o benefício poderá fechar acordo com o governo federal. Além disso, a CGU (Controladoria-Geral da União), responsável pelos acordos no governo federal, terá que submeter seus atos ao controle prévio do TCU.

No fim de abril, a CGU deu a primeira punição a empresas pela Lava Jato, impedindo a Mendes Júnior de contratar com órgãos públicos por dois anos.


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