Folha de S. Paulo


MST diz ter achado correspondência de Temer em fazenda invadida em SP

Marcelo Toledo/Folhapress
Vista interna da fazenda Esmeralda, invadida pelo MST, no interior de São Paulo

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) diz ter encontrado uma correspondência endereçada ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB), na fazenda invadida pelo grupo nesta segunda-feira (9).

A correspondência estava na varanda da propriedade rural, localizada em Duartina, nas proximidades de Bauru (SP). Os sem-terra afirmam que a fazenda Esmeralda, de 1.500 hectares, tem ligações com o peemedebista. O vice-presidente nega. Há mil famílias no local, segundo o movimento.

De acordo com o MST, a correspondência é mais um elo de Temer com a propriedade. A fazenda está no nome do coronel João Batista Lima Filho –conhecido como coronel Lima–, mas, para o MST, o vice-presidente é o verdadeiro dono.

A reportagem da Folha entrou na fazenda no final da tarde desta segunda. Lá, o MST mostrou a correspondência. Trata-se de um envelope tamanho ofício, com timbre da prefeitura local. Nele está escrito a caneta: ao "Dr Michel Temer". Há ainda a inscrição "Enio (prefeito)" –Duartina é governada por Enio Simão (PSDB).

O documento contido no envelope é um pedido de reexame de contas da prefeitura no TCE (Tribunal de Contas do Estado).

Para chegar ao local, a reportagem perguntou a moradores da cidade onde era a fazenda Esmeralda. Eles explicaram o caminho para a Folha e citavam o local como "a fazenda do Temer".

Foi o caso do motorista João Carlos de Oliveira, que acrescentou: "Se perguntar para qualquer um, vão dizer que a fazenda é do Michel Temer. É assim que as pessoas daqui conhecem o local".

'NÃO ME LEMBRO'

Questionado, o prefeito Simão disse não se lembrar do envelope, mas admitiu à Folha que já participou de um evento com Temer na fazenda, durante a campanha eleitoral de 2010.

"A única vez que o encontrei [na fazenda] foi quando ele [Temer] foi recebido com um café. Eu estava lá", disse o prefeito, segundo quem o vice chegou de helicóptero.

"[Sobre a correspondência] Não me recordo, não lembro agora. Quando quero falar com ele é direto com São Paulo", disse. Depois, no entanto, afirmou que o envelope deve ser algo antigo, já que ele tem a cor parda. "Hoje é branco."

Para Simão, não há indícios de que Temer seja o dono da propriedade rural.

'QG DO GOLPE'

Em nota, o MST disse que a fazenda Esmerada foi "um QG [quartel general] do golpe", em referência ao processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

"Estamos aqui para denunciar as ligações escusas de Michel Temer com o proprietário da fazenda e sua empresa de fachada para arregimentar propina", disse Kelli Mafort, da Direção Nacional do MST.

Durante o dia, os integrantes do movimento impediram a entrada de qualquer um que se aproximasse do local. Há mil famílias no local, segundo o movimento.

A fazenda tem ao menos duas entradas: uma por Duartina e outra pela cidade vizinha Lucianópolis. Até mesmo a Polícia Civil não passou da portaria, onde uma placa com o nome da propriedade rural ganhou a pichação "Temer Golpista - MST". Um helicóptero da PM sobrevoou o local durante a tarde.

Na entrada principal, troncos de árvore impedem a entrada de veículos. A sede da fazenda, que, segundo os sem-terra, tem heliponto e piscina, também recebeu pichações contra Temer, o impeachment e o agronegócio. A fazenda produz eucalipto e tem criação de gado.

OUTRO LADO

Em nota, a assessoria do vice-presidente afirmou que Temer não tem propriedades rurais. "Não é dono de fazenda em Duartina."

O coronel João Batista Lima Filho disse, também em nota, não ter oferecido resistência aos manifestantes. "As propriedades rurais em questão foram adquiridas de maneira regular, a partir de 1986, sendo produtivas", diz trecho da nota.


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