Folha de S. Paulo


Patrono de Baiano, lobista é apontado como personagem central no petrolão

Reprodução
O paraense lobista Jorge Luz, com sua namorada Ariadne Coelho, a rainha das quentinhas em foto tirada no Paraguai em 1993. Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O lobista Jorge Luz, em foto de 1993 tirada no Paraguai

Apontado pela Lava Jato como um dos grandes operadores da corrupção na Petrobras, o lobista Fernando Soares, 48, contou com um padrinho para abrir as portas que levavam aos diretores da estatal e a políticos: o engenheiro, empresário e lobista paraense Jorge Luz, 72.

Radicado no Rio de Janeiro desde os anos 1970, Luz vem sendo tratado pelos investigadores como uma espécie de "operador dos operadores".

Ele é citado nas delações de Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.

Policiais federais contam que foi na casa de Luz que Baiano se abrigou antes de se entregar à Justiça Federal, em Curitiba.

"O Jorge é um lobista dentro da Petrobras desde sempre. Eu vim a conhecê-lo quando ocorreu aquele fato de ter que ter apoio do PMDB para eu continuar na diretoria", disse Costa, indicado pelo PP paa a Petrobras, em seu depoimento.

A cada avanço da investigação, o nome de Jorge Luz aparece envolvido em um novo esquema ligado aos senadores do PMDB como intermediário de propinas na Petrobras e na Eletronuclear.

Na última terça-feira (3), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, relacionou o nome de Luz no processo-mãe da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), que investiga uma organização criminosa em esquema comandado por políticos de PT, PMDB e PP.

O septuagenário aparece como grande operador dos esquemas ilícitos envolvendo diversas diretorias da Petrobras. De acordo com Janot, Luz prometeu US$ 40 milhões em propina da diretoria Internacional da Petrobras para ser rateado entre os senadores da República.

Esse não é o primeiro caso em que seu nome aparece no âmbito da Lava Jato.

O lobista é investigado por suspeita de lavagem de dinheiro vindo de crimes de corrupção, cartel, fraude a licitação e organização criminosa.

ATUAÇÃO

A ligação de Luz com o PMDB começou durante a ditadura militar. Em 1972, trabalhava no Rio como desenhista industrial na Companhia Telefônica Brasileira (CTB), que daria origem à Telemar, atual Oi.

Articulado e viajando muito pela CTB, começou a fazer contatos com políticos, especialmente no Pará, sua terra natal, onde conheceu o conterrâneo Jader Barbalho, atualmente senador pelo PMDB.

Luz passou a ser contratado para consultoria de municípios em projetos de infraestrutura. Com a proliferação dos clientes, abriu nos anos 1980 a Rota Engenharia.

A partir daí, as visitas de prefeitos e governadores tornaram-se constantes em seu escritório de Ipanema, no Rio.

Em 1986, durante o governo de José Sarney, o engenheiro iniciou seu lobby na Petrobras, segundo contou Paulo Roberto Costa em sua delação.

No fim daquela década, decidiu apostar no então candidato à Presidência Fernando Collor de Mello, que fez algumas de suas viagens de campanha em aeronaves da Rota Engenharia.

Políticos contam que Luz chegou a indicar nomes para o ministério de Collor.

Em 1994, abriu a Dema Participações, com escritório na Barra da Tijuca. Um deputado do PMDB do Rio conta que, em época de eleição, havia uma romaria para conversar com o empresário no local –inclusive de políticos de outros Estados.

EM BUSCA DE ACORDO

Logo que seu nome surgiu na Lava Jato, Luz se antecipou e enviou advogados até os procuradores da República, no Paraná, em busca de um acordo.

Temia que as investigações se voltassem contra seu filho Bruno Gonçalves Luz, 39. Ambos são sócios em alguns negócios.

Os representantes de Luz tiveram três conversas até setembro passado com os procuradores da Lava Jato. Naquela ocasião, já havia tantas informações contra ele que a delação do lobista não interessou aos investigadores. Ele terá de trazer novas revelações para fechar um acordo.

Policiais e procuradores acreditam que Luz pode comprovar todas as suspeitas contra políticos e ainda auxiliar no avanço das apurações.

O advogado Gustavo Teixeira, que defende Jorge Luz, não foi encontrado. Bruno Luz não atendeu e nem retornou as ligações da Folha.


Endereço da página:

Links no texto: