Folha de S. Paulo


PGR não deve pedir abertura de inquérito contra Temer

Apesar de ter sido citado em delações premiadas, o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) até o momento não deve ser alvo de inquérito da Operação Lava Jato, na avaliação de investigadores que atuam nas investigações do esquema de corrupção da Petrobras.

A Folha revelou nesta terça-feira (3) que a PGR (Procuradoria Geral da República) já decidiu investigar a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula por tentativa de atrapalhar as investigações da Lava Jato.

No caso de Temer, Janot já havia pedindo a inclusão, no inquérito que apura a existência de uma organização criminosa na Petrobras, de depoimento do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) citando o vice-presidente como o padrinho das nomeações de João Henriques e Jorge Zelada a uma diretoria da estatal. Ambos são acusados de corrupção.

A avaliação dos investigadores, porém, é que as citações a Temer até agora não são suficientes para abrir um inquérito contra ele, uma vez que seriam mais menções laterais.

Além disso, caso assuma a Presidência, Temer pode ficar protegido de investigações contra fatos estranhos ao seu mandato, conforme entendimento adotado por Janot no caso de Dilma. A Constituição proíbe que o Presidente da República seja responsabilizado por atos estranhos ao seu mandato.

Essa investigação contra Dilma caberia porque a obstrução à Lava Jato teria ocorrido durante o exercício do cargo de presidente.

Além de Delcídio, ao longo das investigações da Lava Jato o vice foi alvo de referências laterais de delatores. O lobista Fernando Soares, o Baiano, afirmou em sua delação que o vice se reuniu com o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, que tentava manter-se no cargo.

'AJUDA FINANCEIRA'

Em 2006, após o então diretor dar "ajuda financeira" ao PMDB por meio de contratos da Petrobras, o partido passou a apoiá-lo, segundo o delator.

Com a ameaça de perder o cargo em 2007 e 2008, Cerveró procurou José Carlos Bumlai, que buscou ajuda de Lula, mas o petista teria orientado que Michel Temer fosse acionado.

Segundo Baiano, o vice-presidente se reuniu com Cerveró e Bumlai. O cargo já estava prometido à bancada do PMDB de Minas, comandada por Fernando Diniz, e estava destinado a Jorge Zelada. Temer alega que disse a Cerveró, na época, que não poderia fazer nada.

Em sua colaboração, o lobista Júlio Camargo afirmou que Baiano era conhecido por representar o PMDB, o que incluiria, além do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o vice-presidente.

"Havia comentários de que Fernando Soares era representante do PMDB, principalmente de Renan, Eduardo Cunha e Michel Temer. E que tinha contato com essas pessoas de 'irmandade'", afirmou relatório dos investigadores sobre o primeiro depoimento prestado por Júlio Camargo à PGR, em março de 2015.

Temer já negou todas acusações que surgiram na Lava Jato. Disse que as indicações dos diretores para a Petrobras foram da bancada do PMDB, e não dele.


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