Enquanto a assessoria do vice-presidente Michel Temer negava enfaticamente que ele tivesse oficializado convites para seu eventual ministério, o amigo e conselheiro do peemedebista, José Yunes, alisava nervosamente a gravata.
A explicação veio minutos depois: antes de chegar à reunião com Temer, Yunes havia dado entrevistas confirmando não só uma oferta para o secretário da Segurança de São Paulo assumir a AGU (Advocacia-Geral da União), como também que ele próprio seria assessor especial de Temer.
A cena ocorreu há dez dias e foi apenas a primeira de uma série de precipitações que levaram Temer ao que seus aliados definem como o momento mais tenso de sua vida. "Se você soubesse a pressão que estou sofrendo... Não está nada fácil", repete o vice aos mais próximos.
Desde que o impeachment foi aprovado na Câmara, ele vem tentando equilibrar a aparência de respeito às etapas finais do processo de afastamento de Dilma Rousseff com o desafio de montar uma nova administração.
A missão não se revelou fácil, e a disposição e calma típicas do comportamento do peemedebista foram substituídas pelo cansaço e pela impaciência.
Além da dificuldade para acomodar novos e velhos aliados e pinçar nomes que lhe deem alguma credibilidade, Temer se viu obrigado a lidar com uma série de vazamentos que desmontam a tese de que ele aguarda "respeitosamente" o Senado tomar a decisão sobre Dilma.
Na última semana, o vice viveu um desses momentos. Cotado para o Ministério da Justiça, o advogado e amigo de longa data Antônio Cláudio Mariz concedeu entrevista à Folha criticando a Lava Jato. Temer soube na noite do mesmo dia. "Vamos ver se é isso mesmo amanhã. Se for, se tornará inviável." Foi. E Temer se viu obrigado a descartar publicamente o amigo.
A incapacidade dos aliados de guardarem reserva sobre as conversas que vêm sendo travadas nos bastidores irritou profundamente o peemedebista, que passou a desautorizar publicamente informações atribuídas a ele.
A tentativa de guardar reserva sobre as negociações também o fez marcar encontros importantes com aliados longe de sua residência oficial ou de seu gabinete, ambos constantemente monitorados pela imprensa. Um de seus destinos é a casa do senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Temer tem recebido, em média, mais de 20 visitas de empresários, deputados e senadores diariamente. A romaria o levou a dormir no máximo quatro horas por noite. O vice-presidente chegou a trocar o almoço por um sanduíche de queijo e presunto em sua sala. Desde que o impeachment de Dilma passou na Câmara, perdeu 2,5 kg.
Na última semana, diante da presença de aliados e assessores no Palácio do Jaburu até tarde da noite, o peemedebista pediu licença para dormir. "Se quiserem, podem continuar por aqui, mas eu vou descansar", disse.