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'Temer não pode ser contestado, ele venceu a eleição', diz consultor

Bruno Santos/Folhapress
São Paulo, SP, BRASIL-26-04-2016: O consultor político e de comunicação, Gaudêncio Torquato, é retratado em seu escritório, na Zona Sul de São Paulo. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** PODER *** EXCLUSIVO FOLHA***
O consultor político de Michel Temer há 30 anos, Gaudêncio Torquato

Gaudêncio Torquato, consultor político de Michel Temer há 30 anos, defende que o peemedebista dê uma clara sinalização de que descarta ser candidato à Presidência da República em 2018, mesmo que, ao final de seu provável governo, essa possibilidade se torne real.

"Para a manutenção e fortalecimento da base política é preciso que ele descarte sua candidatura. Agora, não dá para garantir que amanhã não choverá em São Paulo."

Em entrevista à Folha, ele diz que o ministro da Fazenda de um eventual governo do PMDB também não pode almejar o Palácio do Planalto.

Torquato costuma, em encontros semanais, analisar e traçar cenários políticos para o peemedebista.

Segundo ele, a pretensão de Michel Temer é "ser o presidente de transição que organizou o país para a grande mudança".

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Folha - Como Temer lidará com o argumento de que ele não tem legitimidade para governar?

Gaudêncio Torquato - Michel teve o mesmo número de votos da presidente Dilma. O nome e a foto dele apareceram na chapa. No presidencialismo brasileiro há concentração excessiva de poder no presidente. Do ponto de vista de legitimidade, não é possível contestar, ele ganhou a eleição também.

Temer ajudou na eleição?

É um erro imaginar que ela se elegeu sozinha. O PMDB funcionou como um peso importante não só com seus agentes políticos trabalhando pela campanha, mas também em função do tempo eleitoral [na TV], que deu ampla visibilidade à Dilma.

Qual desafio de Temer como possível presidente?

Atender a bocarra partidária e formar um ministério de notáveis com um número menor de pastas. Só vejo uma saída: um pacto partidário com os grandes e médios partidos tentando ajustar tamanho de ministério e a qualificação dos quadros.

Quais os outros?

Exigir critérios para ocupar ministérios: domínio da matéria, traquejo político e que não faça do cargo um trampolim para 2018, porque daí desarruma a base política. Fernando Henrique usou esse cargo para depois se eleger presidente, e usar um FHC agora na Fazenda é um risco.

É uma sinalização de que José Serra (PSDB-SP) não é um nome para a Fazenda?

Não quero entrar no mérito de quem vai ser escolhido, se vai ser Meirelles, se vai ser Serra, mas isso pode ser um risco. Se esse ministro sinalizar que pode ser candidato, isso poderia desorganizar e criar uma tensão na base.

Quais devem ser as prioridades de um novo governo?

O Michel terá de dar respostas imediatas principalmente na área da economia e na social. Uso uma imagem que é a seguinte: Michel tem que cobrar o escanteio e correr para cabecear e fazer o gol. Se ele não der respostas imediatas, aí começo a ver uma reativação das ruas com as movimentações sociais.

E se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurar Michel Temer?

Seria o ideal. Acho interessante não dividir o país. Vejo que a participação do PT em um eventual governo Temer seria muito importante.

Como seria essa parceria?

Vamos deixar nossas desavenças de lado e encontrar um ponto em comum. Prego uma visão integrada, não dividir a sociedade entre nós e eles. Pelo que conheço dele, que é uma pessoa muito prudente e muito harmônica, ele gostaria de passar pela galeria dos presidentes como uma pessoa que preparou e organizou o país para a grande mudança.

Como é para Temer ser presidente do partido com o Eduardo Cunha e outros implicados na Lava Jato?

A bandeira da ética não foi suja apenas pelo PT. O Brasil não é um exemplo de democracia asséptica, civilizada. A nossa cultura mostra que a árvore do patrimonialismo, plantada lá trás, nos trouxe o fisiologismo, o coronelismo, o nepotismo e os partidos políticos, hoje, estão comprometidos com essas mazelas.

O sr. acha que ele deve descartar a eleição em 2018?

Em política tudo é possível. A regra que você estabelecer hoje pode não servir amanhã. Para a manutenção e fortalecimento da base política é preciso que ele próprio descarte sua candidatura em 2018. Até para governar com tranquilidade. Agora, não dá para garantir que amanhã não choverá em São Paulo.


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