Folha de S. Paulo


Empresários confirmam repasse da Andrade para ex-presidente da Eletronuclear

Paulo Lisboa - 20.jun.15/Folhapress
CURITIBA, PR, BRASIL,20-06-2015, 10h15: 14ª FASE OPERAÇÃO LAVA-JATO - Presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, chega ao IML para realização de exame de corpo delito na manhã deste sábado, em Curitiba, 20. Foto: Paulo Lisboa/Folhapres, EXCLUSIVA)
O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otavio Azevedo

O ex-presidente da Eletronuclear, o almirante Othon Pinheiro da Silva recebeu pouco mais de R$ 3 milhões em repasses feitos por duas empresas de consultoria à pedido da empreiteira Andrade Gutierrez, responsável por obras na usina nuclear de Angra 3. A informação foi prestada, na tarde desta quarta (27), por dois empresários em depoimento na 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

O advogado do almirante, Helton Pinto, disse que não iria comentar os depoimentos, mas que irá se pronunciar no processo. A Andrade Gutierrez não comentará o caso. O Ministério Público Federal acusa o almirante de ter recebido R$ 4,2 milhões em propinas referentes às obras na usina nuclear.

De acordo com o empresário Carlos Augusto Montenegro Gallo, da CG Consultoria, a sua empresa foi utilizada para repassar R$ 2,9 milhões à pedido da Andrade Gutierrez para a empresa Aratec, de propriedade do almirante Othon Pinheiro da Silva.

A verba encaminhada foi, segundo Gallo, um pedido de Othon Silva, em 2008. A justificativa do ex-presidente da Eletronuclear para o caso foi que ele prestou um serviço para a empreiteira Andrade Gutierrez na área de energia, mas que o trabalho não teria sido quitado.

"O Dr. Othon, me solicitou. Disse que tinha feito um serviço anterior a ele como presidente da Eletronuclear. Como ele foi nomeado presidente, esse serviço não havia sido efetivamente cobrado, e ele, até para ajudar em negócios futuros (ele era obcecado por um projeto de turbinas), ele precisava receber da Andrade Gutierrez. Ele perguntou se eu poderia, através da minha empresa, receber esse dinheiro para ele", afirmou Gallo ao juiz Marcelo Brêtas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

Gallo foi denunciado por integrar uma organização criminosa, lavagem de dinheiro e por dificultar a investigação de organização criminosa. O empresário teria, segundo o MPF, apresentado documentos falsos para justificar de forma fraudulenta as transações em favor da Aratec.

Já o engenheiro Josué Augusto Nobre, da JNobre, disse que foi procurado por Carlos Gallo que o convenceu a realizar serviços semelhantes ao almirante Othon da Silva. Nobre disse que a sua empresa cedeu apenas o nome para os repasses da Andrade Gutierrez para a Aratec.

"Sabia que não ia prestar o serviço. Não sabia o que era [se propina ou não] ou a origem. Os contratos já vinham assinados", disse Josué Nobre, lembrando que aceitou a situação de ceder apenas o nome de sua empresa por considerar uma oportunidade para se aproximar da Andrade Gutierrez.

Tanto Gallo como Nobre negaram que soubessem que o dinheiro tratasse de propina. Nobre está denunciado por organização criminosa e por lavagem de dinheiro.

Outro empresário a ser ouvido, Geraldo Toledo Júnior, da Deutschbras, lembrou que foi chefiado pelo almirante Othon da Silva na Marinha e que o considera uma pessoa "fantástica".

Segundo Toledo Júnior, a sua empresa nunca foi favorecida pela Eletronuclear ou pela Andrade Gutierrez. Ele disse ainda que Othon da Silva não solicitou a ele propina "de forma alguma".


Endereço da página:

Links no texto: