O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta terça-feira (26) manter a prisão de Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht, e tirar da cadeia dois ex-executivos da empresa.
Os três estão presos preventivamente há mais de dez meses por determinação da Justiça do Paraná diante da ligação com o esquema de corrupção e tiveram habeas corpus analisados pela segunda turma do STF.
Por 3 votos a 2, os ministros entenderam que a liberdade de Marcelo Odebrecht ainda oferece risco para as investigações, uma vez que ele pode interferir, por exemplo, na coleta de provas.
Isso porque há elementos de que o empreiteiro tentou perturbar a Lava Jato, colaborando e direcionando a defesa de aliados e eliminando registros, além de tentar exercer influência sobre autoridades que poderiam interferir em seu caso.
A manutenção da prisão foi defendida pelo relator da Lava Jato, Teori Zavascki, que foi seguida pelos colegas Cármen Lúcia e Celso de Mello.
"Os elementos apresentados pelo juiz (Sérgio Moro), digo eu, permitem de fato constatar a presença de indícios de que o paciente [Marcelo] estaria agindo, com perspectiva de êxito ou não, o que é irrelevante para essa análise, no sentido de perturbar a investigação, seja por meio da orientação de seus subordinados para que destruíssem provas, seja por meio de tentativa de apoio político ou de corrupção de servidores da Polícia Federal", afirmou Teori.
O ministro citou como indícios anotações que continuam orientações para executivos apagarem dados de seus celulares, evitar movimentação em contas bancárias e ainda "vazar doação de campanha".
Gilmar Mendes e Dias Toffoli avaliaram que não há justificativa para manter o empreiteiro detido e defenderam medidas alternativas, como prisão domiciliar e uso de tornozeleira. Gilmar criticou excessos de prisões preventivas.
A defesa de Odebrecht avalia se vai apresentar recurso a própria turma questionando a decisão. No julgamento, o advogado Nabor Bulhões afirmou que houve irregularidade nas sucessivas decretações de prisão do empreiteiro e que havia interesse de Moro em manter o empresário preso a qualquer custo. Bulhões disse ainda que a prisão era insustentável e defendeu que os tribunais não podem usar prisão como "injusto" instrumento de antecipação de punição.
Ex-presidente da maior empreiteira do país, Marcelo já foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 19 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e por integrar organização criminosa. Ele teria atuado para obtenção de contratos que somam R$ 12,6 bilhões de parte das obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio), da refinaria Abreu e Lima (Rnest, PE) e da refinaria Getúlio Vargas (Repar, PR). Ele ainda responde a outra ação penal. A prisão, no entanto, é motivada pela tentativa de obstruir as investigações.
DOMICILIAR
No julgamento, os ministros decidiram aplicar medidas alternativas os ex-executivos da Odebrecht Márcio Faria da Silva e Rogério Araújo, como prisão domiciliar e tornozeleira eletrônica.
Por 3 votos a 2, a maioria dos ministros avaliou que o fato de Márcio Faria da Silva ter dupla nacionalidade (brasileira e suíça) e ter enviado R$ 11,4 milhões para o exterior após o inícios da investigações do esquema de corrupção não justificavam a manutenção da prisão.
Os ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli votaram para que ele passe a cumprir pena em prisão domiciliar. Para esses ministros, o fato de ter recursos no Brasil e no exterior não indica risco de fuga.
"Nos dias de hoje a fuga não parece ser atrativo. Se verificarmos desde o caso PC Farias até a AP 470 [julgamento do mensalão], os fugitivos vieram ser capturados. Penso que a tornozeleira eletrônica é suficiente", disse Dias Toffoli.
Os ministros Teori Zavascki e Cármen Lúcia defenderam manter a prisão, diante do risco de fuga.
"Não consigo superar esse fundamento de que no curso das investigações houve remessa ao exterior e tem dupla nacionalidade", argumentou Teori ao defender que há receio de fuga.
Por unanimidade, a segunda turma do STF também entendeu que a a manutenção da prisão decretada por Moro para Rogério Araújo não se justificaria, uma vez que era sustentada apenas na presunção de que ele poderia fugir. "O que há é apenas presunção, que não é admitido como fundamento para decretar a prisão", disse Teori.
Segundo a acusação contra a Odebrecht, as obras que eram desejadas pela empreiteira e que teriam envolvimento com o esquema de corrupção estavam entre as 10 maiores do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal vitrine de infraestrutura dos governos Lula e Dilma Rousseff. A propina, segundo a sentença, percorreu uma rede de contas secretas em nomes de offshores em paraísos fiscais.
De acordo com a acusação, subsidiárias da Odebrecht no exterior foram a origem de pagamentos de US$ 16,3 milhões aos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque e ao ex-gerente Pedro Barusco.
Além disso, entre 2011 e 2012, a Odebrecht realizou oito depósitos que somaram US$ 4,2 milhões em uma conta em Hong Kong e o doleiro Alberto Youssef disponibilizou o valor em espécie, em reais, no Brasil, para entregar a Paulo Roberto Costa.
A decisão do STF também deve ter efeito nas negociações de Odebrecht com a Procuradoria-Geral da República para fechar acordo de delação premiada.
Em março, a empreiteira anunciou que seus executivos estavam dispostos a colaborar, revelando detalhes do esquema de corrupção, em troca de benefícios, como eventual redução de penas.
Inicialmente, Marcelo Odebrecht resistia à ideia de fechar delação, mas acabou se dobrando diante do número de delatores, que já alcança 65 e conta com empreiteiros, com o avanço das investigações e ainda os dias na cadeia.
Procuradores, no entanto, apontam que, como a empreiteira demorou em sinalizar com a delação, as negociações serão ainda mais exigentes.