Folha de S. Paulo


Base governista não impede apuração sobre máfia da merenda, diz Alckmin

William Volcov - 11.dez.2015/Brazil Photo Press/Folhapress
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin durante coletiva sobre a vacina contra a dengue
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB)

A base governista na Assembleia Legislativa não impede o avanço da investigação do suposto esquema que ficou conhecido como máfia da merenda. Foi o que afirmou nesta segunda-feira (25) o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Um lobista envolvido com o esquema citou, em delação premiada, ter se encontrado duas vezes com o presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), em 2014. O tucano é aliado de Alckmin.

"Não [a base do governo não impede a apuração], a Assembleia Legislativa tem total autonomia, isso está sendo investigado pela Polícia Civil, pelo Ministério Público, quem mais quiser investigar, ótimo. O governo é vítima", disse. A afirmação foi feita em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), que sedia até sexta-feira (29) a 23ª edição da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação).

Antes, ele discursou na abertura do evento e duas pessoas protestaram com cartazes citando a máfia da merenda e a falta de reajuste para os professores da rede estadual. Foram retiradas do local por seguranças e o público presente, formado por agricultores, expositores e políticos, aplaudiu o tucano, que não interrompeu o discurso.

Segundo Alckmin, foi o governo quem descobriu o escândalo e o Estado é vítima da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar), vista como responsável pelo esquema.

"Foi o governo que descobriu, é importante destacar que a licitação foi feita, teve disputa, ganhou o menor preço e o produto foi entregue. Agora, acontece que era uma tomada [de preços] para pequena agricultura e a cooperativa usava os nomes dos pequenos agricultores para ela se beneficiar."

GOVERNOS NA MIRA

Uma planilha apreendida pela operação Alba Branca, que apura o caso, revela a existência de contratos da Coaf com 76 prefeituras paulistas. À frente dos nomes das cidades, aparece o valor que a prefeitura tinha disponível para a compra de alimentos de agricultores familiares.

Por isso, a terceira fase da operação, ainda a ser deflagrada, vai apurar a conduta de agentes públicos de prefeituras já investigadas ou abrir o leque para cidades descobertas ao longo da apuração, iniciada em janeiro.

Na segunda etapa, foram presos o ex-presidente da Assembleia Legislativa Leonel Julio (sem partido), o presidente da Uvesp (União dos Vereadores do Estado de São Paulo), Sebastião Misiara e outras cinco pessoas (um funcionário da Casa da Agricultura de Monte Azul Paulista, três ex-vendedores da Coaf, e um lobista).

O depoimento mais esperado, no entanto, foi o de um foragido da primeira etapa, Marcel Ferreira Julio, apontado como o elo entre a cooperativa e os servidores públicos e políticos. Ele é filho do ex-presidente da Assembleia preso na segunda etapa, fechou acordo de delação premiada e citou Capez em seu depoimento.

A assessoria de Capez repudiou a citação de seu nome na Alba Branca e disse que o deputado sempre esteve à disposição para colaborar com as investigações.

AJUDAR SEM CARGOS

Alckmin criticou na Agrishow a política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, disse que o país está "virando uma página", em alusão ao seu possível afastamento do cargo, e defendeu ajuda a um eventual governo Temer, sem cargos.

"O Brasil vinha tendo uma política fiscal de cada vez aumentar impostos, política monetária com o maior juros do mundo e política cambial até então com moeda sobrevalorizada. É receita para não crescer. O mundo que cresce tem política fiscal dura, reduz impostos, política monetária [com] juros baixos. Aliás, o mundo vive um novo momento, [de] juros negativos. Muitos países do mundo com juros negativos. E de outro lado, política cambial compatível com a competitividade."

O tucano disse ainda que o governo federal vive de "renda", em relação à discussão sobre a renegociação das dívidas dos Estados.

"O [ex-]governador Mário Covas, em 1997, renegociou R$ 46,5 bilhões [de dívidas]. Deu para o governo federal Banespa, Ceagesp, Fepasa, Eletropaulo, CPFL, Comgás, Cesp Distribuição, pagou R$ 130 bilhões e está devendo R$ 222 bilhões. O Brasil não pode conviver com essa doença de maior juros do mundo, porque isso desestimula a atividade produtiva."

Sobre a participação num eventual governo do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), disse ser favorável a ajudar, mas contra o partido ter ministros.

"Defendo que nós temos responsabilidade completando o processo de afastamento no Senado, e assumindo o vice-presidente Michel Temer, nós temos responsabilidade de ajudar. Momento difícil do país, precisa ter reformas macro, precisa recuperar a economia, recuperar emprego, recuperar confiança, então é nosso dever apoiar. Agora não precisamos ter nem pasta nem cargo para poder fazer isso", afirmou.

Questionado sobre o posicionamento de outros tucanos, que dependem a participação do partido no governo, disse que essa "não é uma questão programática". "É um período difícil do país, precisa ter base parlamentar, precisa fazer reformas."

A Agrishow termina na próxima sexta-feira (29) e a previsão dos organizadores é que o volume negociado em máquinas e implementos agrícolas atinja R$ 1,9 bilhão, mesmo valor do ano passado. São esperadas 160 mil pessoas.


Endereço da página:

Links no texto: