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Marina sugere que Temer não terá legitimidade e defende novas eleições

Alan Marques/Folhapress
Ex-senadora Marina Silva durante entrevista na sede da Rede, em Brasília (DF), na tarde desta terça-feira
Ex-senadora Marina Silva durante entrevista na sede da Rede, em Brasília (DF)

A ex-senadora Marina Silva diz que a maioria dos brasileiros não quer ver o vice-presidente Michel Temer na cadeira de Dilma Rousseff. À frente de uma campanha por novas eleições, ela sugere que o peemedebista não terá "legitimidade e credibilidade" para assumir o governo.

Marina também questiona o compromisso de Temer com o combate à corrupção. Ela lembra que o vice é aliado do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e não citou a Lava Jato no áudio em que já falava como novo presidente.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

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MICHEL TEMER
Marina disse que a eventual posse de Michel Temer não resolverá a crise política e econômica. "Minha posição é clara. Nem Dilma, nem Temer. A saída para o Brasil é uma nova eleição." Ela descartou a hipótese de a Rede Sustentabilidade participar de um "governo de salvação nacional" liderado pelo vice.

Para a ex-senadora, os brasileiros não querem Temer na cadeira de Dilma. "Hoje 58% defendem que ele também seja alvo de um processo de impeachment. Apenas 1% dos eleitores se lembram dele para presidente", afirmou, citando pesquisas do Datafolha.

"Para um governo ter legitimidade e credibilidade, é preciso que os partidos e os candidatos se reapresentem à sociedade. Os atalhos nem sempre nos levam para os melhores lugares. Às vezes, podem nos conduzir a abismos."

Marina também atacou o discurso de Temer falando como se já estivesse na cadeira de presidente. "Ele deixou vazar um áudio que não tem uma única frase de apoio à Lava Jato. E hoje a corrupção é a maior preocupação das pessoas", afirmou.

DILMA ROUSSEFF
Marina criticou a entrevista de Dilma Rousseff à imprensa estrangeira, nesta terça (19). "Fiquei muito preocupada com a tentativa de passar a ideia de que impeachment é golpe. Então o Supremo está participando de um golpe?", disse. "Para ficar no cargo, ela diz lá fora que as instituições brasileiras não estão funcionando. Até que ponto vale o apego ao poder?", perguntou.

DUPLA RENÚNCIA
Para a ex-senadora, a presidente e o vice deveriam ter renunciado a seus cargos antes da votação do impeachment. "Se Dilma e Temer tivessem noção do sofrimento a que a população está sendo submetida, eles teriam derrubado aquele muro [erguido na Esplanada dos Ministérios] com o gesto da renúncia.

"A renúncia não é um ato de fraqueza. É um ato de coragem. Os estadistas sabem que a nação está acima dos seus projetos de poder."

NOVAS ELEIÇÕES
Derrotada nas últimas duas eleições presidenciais, Marina disse que insistirá na tese de antecipar a disputa de 2018. "Qual é a vantagem de uma nova eleição?", perguntou a ex-senadora a si mesma. "Repactuar a sociedade para a transição em um momento difícil do país", respondeu. Ela defende que o TSE casse a chapa Dilma-Temer caso fique comprovado o uso de dinheiro do petrolão na campanha.

A ex-senadora negou que a ideia tenha relação com seu favoritismo nas pesquisas. Ela tem 19% das intenções de voto e está tecnicamente empatada com o ex-presidente Lula, que tem 21%. "Quando comecei a defender a tese, não estava na liderança", disse. Ela repetiu que ainda não sabe se será candidata pela terceira vez.

SESSÃO DO IMPEACHMENT
A ex-senadora criticou o nível da sessão que paralisou o país no último domingo (17). Ao votar, os deputados citaram razões particulares e aproveitaram para homenagear parentes e amigos, sem debater as razões do impeachment.

"A superficialidade foi um susto para boa parte da sociedade brasileira", disse Marina. "Mas não foi muito diferente da sessão que cassou o presidente Collor, quando também não houve muito debate sobre o mérito do pedido de impeachment", afirmou.
"Estamos vivendo um momento dramático da história do país. Acompanhei a sessão inteira, muito preocupada."

LULA NA CASA CIVIL
"Dilma perdeu a condição de liderar ao nomear Lula primeiro-ministro", disse a ex-petista. "Pensei que seria um paliativo, mas ele virou combustível para a crise."


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