Folha de S. Paulo


'Câmara derrubou o governo', diz Cunha, que cobra pressa do Senado

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou na noite desta terça-feira (19) que "a Câmara derrubou o governo" Dilma Rousseff e que qualquer protelação na tramitação do impeachment por parte do Senado causará muitos prejuízos ao país.

No domingo o plenário da Câmara decidiu, por 367 votos contra 137, autorizar o Senado a abrir processo de impedimento de Dilma. Por determinação do Supremo Tribunal Federal, porém, essa decisão é exclusiva do Senado, que pode inclusive rejeitar a recomendação da Câmara.

"Para o país essa postergação vai causar muitos prejuízos porque, na verdade, a Câmara derrubou o governo. O Senado ainda não confirmou isso ou não. Mas como vão ficar as relações? A partir da semana que vem o governo não será reconhecido pela Casa [Câmara]. O que vai acontecer é que temos uma ainda uma presidente da República e ninguém vai reconhecer absolutamente nada para efeito de matéria [votações]. Então há uma paralisia do Congresso Nacional até o Senado decidir", disse Cunha.

Questionado em seguida se espera um mero carimbo do Senado à decisão dos deputados, o peemedebista recuou e disse que o Senado tem a palavra final: "Disse [que a Câmara derrubou o governo] do ponto de vista político. A leitura política para a Câmara. Para a Câmara não tem governo. (...) Falei do ponto de vista político, psicológico. Não disse que concretizou a derrubada. Se vocês quiserem [uma declaração] literal, me perdoem, eu falei a palavra errada, tá tudo errado."

Ao contrário do que ocorreu na Câmara, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), indicou nesta terça que não pretende acelerar a votação do impeachment. A sessão que definirá o afastamento ou não de Dilma deve acontecer só em meados de maio.

Na entrevista, Cunha disse ainda que enquanto não houver um desfecho do impeachment a Câmara não votará a alteração da meta fiscal para 2016, o que segundo o ministro Nelson Barbosa (Fazenda) pode levar a uma paralisia da máquina pública.

"Se o Brasil vai entrar em 'shutdown' [previsão de Barbosa] por isso, mais uma razão para o Senado apressar", disse o peemedebista.

REPÚDIO

Sob a articulação de Cunha, partidos de oposição e do chamado "centrão" da Câmara divulgaram uma nota de repúdio às críticas de Dilma sobre a decisão da Câmara de autorizar a abertura do processo.

Na nota, os partidos dizem ainda que os crimes de responsabilidade atribuídos a Dilma foram demonstrados "pela contundente maioria de 367 votos" na Câmara e que ela desconsidera "que está sendo acusada de ter cometido um dos maiores crimes que podem ser praticados por uma mandatária, já que a vítima, no caso, é toda a nação".

De acordo com esses partidos, "para defender-se ela inverte sua posição de autora em vítima".

PMDB (senador Romero Jucá, presidente interino da legenda), PSDB, PSD, PSB, DEM, PRB, PTB, SD, PTN, PSC, PPS, PV, Pros e PSL disseram que a entrevista de Dilma a correspondentes da imprensa internacional representou um "triste espetáculo".

"A vã tentativa de vitimização, sob a alegação de injustiça, não encontra amparo no relatório da comissão especial, na decisão do plenário da Câmara dos Deputados, nas decisões do Supremo Tribunal Federal e na soberana vontade da ampla maioria da população brasileira".

Também na entrevista, Cunha foi questionado sobre a imagem que alguns deputados passaram à sociedade durante a votação do impeachment.

"Algumas coisas não são agradáveis a ninguém, outras fazem parte da democracia, essa é a representação da população brasileira", afirmou, acrescentando considerar cuspe em colega "falta de educação e decoro". Na sessão de domingo, Jean Wyllys (PSOL-RJ) se desentendeu com Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e cuspiu na direção do colega. O filho de Bolsonaro, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), cuspiu de volta.

Sobre a defesa da memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe da repressão na ditadura, pelo aliado Jair Bolsonaro, Cunha evitou dizer se considera isso quebra de decoro. "Não sei, pode ser que alguém represente [no Conselho de Ética]. Não defendo e não concordo. Não defenderia torturador em nenhuma hipótese."

PRÓXIMOS PASSOS DO IMPEACHMENT NO SENADO


Endereço da página:

Links no texto: