Folha de S. Paulo


Lula recomenda ao PT questionar a legitimidade de um governo Temer

Pilar Olivares/Reuters
Former Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva speaks in support of President Dilma Rousseff, as he attends a protest against her impeachment in Rio de Janeiro, Brazil, April 11, 2016. REUTERS/Pilar Olivares ORG XMIT: PON01
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou ao PT, numa reunião com o comando do partido nesta terça-feira (19), questionar a legitimidade de um eventual governo de Michel Temer, criticando o fato de o vice-presidente estar montando uma equipe sem que a presidente Dilma Rousseff tenha sido afastada.

O ex-presidente avaliou que a campanha contra Temer deverá perdurar até 2018, quando ocorrerão novas eleições.

Lula pregou oposição a Temer desde já, mas sugeriu que o movimento não seja agressivo para que o PT não seja responsabilizado na hipótese de um fracasso do governo peemedebista.

O petista também disse que não teria coragem de propor a Dilma a antecipação das eleições. Ele desaconselhou o partido a propor a antecipação e disse que esse movimento cabe a Dilma.

No encontro, Lula admitiu ainda não ter assimilado a derrota sofrida no domingo (17), quando a Câmara dos Deputados aprovou a abertura de processo de impeachment da presidente Dilma.

Lula chamou de "canalhas" os ministros que deixaram os cargos para votar e apoiar o impeachment.

O comando do PT reteve o aparelho de celular dos participantes do encontro. A medida foi tomada para impedir que os petistas divulgassem o teor do debate ainda com a reunião em andamento.

Numa resolução divulgada no fim desta tarde, o comando do PT propõe uma reforma no Ministério: " O PT recomenda à presidente Dilma Rousseff que proceda imediatamente à reorganização de seu ministério, integrando-o com personalidades de relevo e representantes de agrupamentos claramente comprometidos com a luta antigolpista, além de incorporar novos representantes da resistência democrática.

No texto, Temer é chamado de traidor: "Subjugada por pressões e traições patrocinadas por grupos políticos e empresariais dispostos a recuperar o comando do Estado a qualquer custo, a maioria parlamentar tenta surrupiar o mandato popular da companheira Dilma Rousseff para entregá-lo a um receptador sem voto", diz o documento

MICHEL TEMER

Temer afirmou na manhã desta terça que "muito silenciosa e respeitosamente" vai "aguardar a decisão do Senado Federal" sobre o impeachment da presidente.

"O Senado Federal é que dá a última palavra sobre essa matéria. Portanto, seria inadequado que eu dissesse qualquer coisa antes da solução acertada pelo Senado Federal", disse Temer aos jornalistas em frente à sua casa, no Alto de Pinheiros, em São Paulo.

Questionado se já estaria montando seu ministério para o futuro governo, o vice-presidente limitou-se a dizer: "Não estou".

Nesta segunda (18), Temer se reuniu com conselheiros para traçar uma estratégia de defesa à ofensiva governista. Um dos principais auxiliares do vice, o ex-ministro Moreira Franco, chegou ao escritório de Temer, no bairro do Itaim Bibi, acompanhado de Thomas Traumann, que foi porta-voz e ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) de Dilma.

TRÂMITE DO IMPEACHMENT

Aprovado pela Câmara no domingo, o processo de impeachment de Dilma foi entregue ao Senado nesta segunda. O documento tem 36 volumes e 12.044 páginas.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que presidiu a sessão de domingo, foi pessoalmente ao gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para formalizar a entrega.

Avalizado o andamento do impeachment pela Câmara, caberá agora ao Senado decidir pela abertura do processo e posterior julgamento da presidente. Segundo Renan, o processo será lido nesta terça na sessão deliberativa do plenário.

PRÓXIMOS PASSOS DO IMPEACHMENT NO SENADO


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