O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou ao PT, numa reunião com o comando do partido nesta terça-feira (19), questionar a legitimidade de um eventual governo de Michel Temer, criticando o fato de o vice-presidente estar montando uma equipe sem que a presidente Dilma Rousseff tenha sido afastada.
O ex-presidente avaliou que a campanha contra Temer deverá perdurar até 2018, quando ocorrerão novas eleições.
Lula pregou oposição a Temer desde já, mas sugeriu que o movimento não seja agressivo para que o PT não seja responsabilizado na hipótese de um fracasso do governo peemedebista.
O petista também disse que não teria coragem de propor a Dilma a antecipação das eleições. Ele desaconselhou o partido a propor a antecipação e disse que esse movimento cabe a Dilma.
No encontro, Lula admitiu ainda não ter assimilado a derrota sofrida no domingo (17), quando a Câmara dos Deputados aprovou a abertura de processo de impeachment da presidente Dilma.
Lula chamou de "canalhas" os ministros que deixaram os cargos para votar e apoiar o impeachment.
O comando do PT reteve o aparelho de celular dos participantes do encontro. A medida foi tomada para impedir que os petistas divulgassem o teor do debate ainda com a reunião em andamento.
Numa resolução divulgada no fim desta tarde, o comando do PT propõe uma reforma no Ministério: " O PT recomenda à presidente Dilma Rousseff que proceda imediatamente à reorganização de seu ministério, integrando-o com personalidades de relevo e representantes de agrupamentos claramente comprometidos com a luta antigolpista, além de incorporar novos representantes da resistência democrática.
No texto, Temer é chamado de traidor: "Subjugada por pressões e traições patrocinadas por grupos políticos e empresariais dispostos a recuperar o comando do Estado a qualquer custo, a maioria parlamentar tenta surrupiar o mandato popular da companheira Dilma Rousseff para entregá-lo a um receptador sem voto", diz o documento
MICHEL TEMER
Temer afirmou na manhã desta terça que "muito silenciosa e respeitosamente" vai "aguardar a decisão do Senado Federal" sobre o impeachment da presidente.
"O Senado Federal é que dá a última palavra sobre essa matéria. Portanto, seria inadequado que eu dissesse qualquer coisa antes da solução acertada pelo Senado Federal", disse Temer aos jornalistas em frente à sua casa, no Alto de Pinheiros, em São Paulo.
Questionado se já estaria montando seu ministério para o futuro governo, o vice-presidente limitou-se a dizer: "Não estou".
Nesta segunda (18), Temer se reuniu com conselheiros para traçar uma estratégia de defesa à ofensiva governista. Um dos principais auxiliares do vice, o ex-ministro Moreira Franco, chegou ao escritório de Temer, no bairro do Itaim Bibi, acompanhado de Thomas Traumann, que foi porta-voz e ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) de Dilma.
TRÂMITE DO IMPEACHMENT
Aprovado pela Câmara no domingo, o processo de impeachment de Dilma foi entregue ao Senado nesta segunda. O documento tem 36 volumes e 12.044 páginas.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que presidiu a sessão de domingo, foi pessoalmente ao gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para formalizar a entrega.
Avalizado o andamento do impeachment pela Câmara, caberá agora ao Senado decidir pela abertura do processo e posterior julgamento da presidente. Segundo Renan, o processo será lido nesta terça na sessão deliberativa do plenário.