Folha de S. Paulo


Alvo de impeachment, Collor afirma desconforto com processo de Dilma

Pedro Ladeira - 26.ago.15/Folhapress
Brasilia, DF,Brasil 26.08.2015 Senador Fernando Collor durante a Sabatina do indicado a PGR Rodrigo Janot na CCJ do Senado. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress cod 4847
O senador Fernando Collor (PTC-AL), que sofreu impeachment em 1992

Um dia após a Câmara aprovar a continuidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o senador Fernando Collor (PTC-AL), que sofreu um processo de afastamento da Presidência da República em 1992, quando ocupava o cargo, disse estar desconfortável em ter que participar do processo, falou na necessidade de "serenidade" e aproveitou os 50 minutos em que ocupou a tribuna do plenário do Senado ainda para apresentar sugestões à administração do país.

"Sinto-me nessa contingência, tenham certeza, com profunda apreensão e pesar. Apreensão pela imensa preocupação com a estabilidade do país. E pesar, pela possibilidade de ter que participar do julgamento de um governo, cujos principais atores e partido protagonizaram exatamente meu impeachment. Não é nada confortável para mim rememorar e menos ainda reviver, mesmo que em outra trincheira, momentos como este".

Aliado de Dilma, o senador deixou claro que não iria declarar um posicionamento em relação ao processo. "Considero imprudente de minha parte antecipar, neste momento, uma posição frente ao processo de impeachment em curso. Qualquer que seja minha palavra, celeumas podem ser criadas, e essa não é minha intenção. Desejo tão somente, no plano institucional e no exercício do mandato de senador, colaborar para que o Brasil encontre soluções para sair de todas as crises por que passa".

Questionado pela Folha, ironizou: "não tenho sequer ideia do que está acontecendo". "Eu estou meio desatualizado desse assunto, não estou sabendo direito o que está acontecendo", disse. "Soube que ontem [domingo] teve uma reunião na Câmara, que estavam votando uma medida provisória. Aí tem que ver prazo. Não estou a par", disse Collor, referindo-se à sessão de votação deste domingo (17).

O congressista, que destacou ser o único no parlamento que já ocupou a posição de presidente da República, exaltou alguns pontos de sua gestão e disse ter deixado um "legado positivo".

"Tenho plena convicção de que, em meu governo, o Brasil não retrocedeu em nenhum setor, em nenhuma avaliação relevante. Apesar da abrupta interrupção do meu mandato, creio: o legado foi positivo".

Aproveitou o discurso ainda para agradecer aos deputados e senadores que se mantiveram a seu lado durante a votação do impeachment na ocasião e, a despeito da atual situação do governo, afirmou que seu governo se manteve em pleno funcionamento até o fim.

"A despeito da instabilidade política vivida nos últimos meses do meu governo, foi fundamental –fundamental!– a normalidade da administração obtida com a manutenção de meu ministério, cujos quadros mantiveram funcionando normalmente o programa de governo".

Também como ex-presidente, disse ter levado ao governo sugestões "da necessidade de uma maior efetividade nas ações políticas e institucionais com o Poder Legislativo, em contraposição a uma menor atuação meramente publicitária junto à população" e completou: "o tempo e o presente quadro de degradação do país me deram razão".

Devido ao quadro de paralisia do país, Collor destacou ainda a necessidade traçar planos para o futuro, para reerguer e retomar as engrenagens e apresentou a proposta "Brasil: diretrizes para um plano de recuperação".

"Trata-se de um elenco atualizado de diagnósticos, princípios e medidas a serem discutidos, aperfeiçoados e implantados de forma a permitir que o Brasil retome o caminho do desenvolvimento econômico e social, sua credibilidade, sua previsibilidade e segurança jurídica e, com isso, melhorar o ambiente dos negócios. As propostas visam permitir ainda que o Brasil se reinsira, definitivamente, nos grandes blocos econômicos do mundo, sem os quais continuaremos a patinar não apenas no comércio exterior, mas também na liderança e no protagonismo perdidos no âmbito do nosso subconsciente".

Por mais de 30 minutos, Collor leu todo o plano que propôs e destacou, ainda, que entregará cópia a cada um dos senadores.


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