Folha de S. Paulo


Assessores de Dilma já falam em levar derrota em votação ao Supremo

Avener Prado/Folhapress
No dia da votação do impeachment, Dilma anda de bicicleta acompanhada por seguranças perto do palácio da Alvorada
No dia da votação do impeachment, Dilma anda de bicicleta acompanhada por seguranças perto do palácio da Alvorada

Confirmada a derrota do governo, a equipe de Dilma Rousseff avaliou que a presidente "colheu o que plantou" na sua relação com a base aliada, mas disse que a petista pretende ir até o fim do julgamento no Senado e deve recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para questionar o mérito do pedido de impeachment.

Assessores de Dilma classificaram a votação deste domingo (17) como totalmente política, e não técnica, um ato de vingança de deputados governistas que nunca se consideraram representados na gestão da petista. Para estes, Dilma demorou muito para perceber que não bastava se considerar honesta para vencer a votação.

Em entrevista após a votação, o advogado-geral da União José Eduardo Cardozo afirmou que "se alguém imagina que Dilma se curvará diante da decisão de hoje, se enganará", acrescentando que a presidente, que fará um pronunciamento nesta segunda, "lutará para que o Brasil não sofra mais um golpe de Estado."

Já o ministro-chefe do Gabinete da Presidência, Jaques Wagner, disse esperar que o Senado faça "justiça" à petista. Ele afirmou que a decisão "ameaça interromper 30 anos de democracia no país".

O reconhecimento da derrota por parte da equipe de Dilma só ocorreu em meio à votação da Câmara, mas já havia uma avaliação durante o dia de que a situação era ruim. O ex-presidente Lula, que havia ido para São Paulo no sábado (16), voltou às pressas para a capital no domingo (17) depois de ser informado que Temer recuperava votos.

Na biblioteca do Palácio da Alvorada, Dilma montou um núcleo de acompanhamento do dia com Lula, Wagner e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), além do assessor especial Giles Azevedo.

O grupo também assistiu junto a votação da Câmara. Enquanto os deputados votavam, o ex-presidente passou boa parte do tempo calado e sentado, com aspecto tenso. Já a presidente estava mais agitada, andando e falando.

"Como é que alguém consegue falar que quer acabar com a corrupção olhando para o Eduardo Cunha?", comentou, ao ouvir o discurso de um deputado.

Na hora do voto do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR-AM), contrário à petista, Lula resumiu a frustação: "Decepção". Nascimento foi um dos alvos da "faxina" ministerial do primeiro mandato da petista.

Depois da votação, a ordem do ex-presidente Lula é mobilizar o PT e a base social do partido para o cenário pós-impeachment. Ele afirmou que, caso o Senado aprove o processo, o PT não vai colaborar "de nenhuma maneira" com o eventual governo do vice-presidente Michel Temer.

O diretório do PT deve discutir na terça (19) que Dilma envie ao Congresso proposta de redução de seu próprio mandato e de convocação de eleições presidenciais ainda neste ano, junto das eleições municipais no país.

A ideia é que a presidente anuncie que abre mão de dois anos de mandato mesmo que chegue a ser inocentada de crimes de responsabilidade pelo Senado, que julgará se a petista é ou não inocente, consumando ou não o impeachment.

O discurso do partido será o de que Dilma busca uma solução para a grave crise política que o Brasil atravessa, mas que não será resolvida por um presidente que não teria legitimidade por chegar ao poder por meio de um "golpe".

(GUSTAVO URIBE, MARINA DIAS, VALDO CRUZ E MÔNICA BERGAMO)

PLACAR DO IMPEACHMENT NA CÂMARA


Endereço da página:

Links no texto: