Folha de S. Paulo


Em dia de decisão, Lula volta a Brasília atrás de votos contra impeachment

Diego Padgurschi /Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL - 16-04-2016: O ex-presidente Lula durante evento com movimentos sociais no acampamento dos contra o impeachment. (Diego Padgurschi /Folhapress - (PODER)
O ex-presidente Lula durante evento

Preocupado com o novo revés que o governo sofreu na madrugada deste domingo (17) para a votação do impeachment, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu voltar a Brasília para ajudar nas articulações para salvar o mandato de Dilma Rousseff.

O ex-presidente chegou à capital no fim da manhã deste domingo e vai se reunir com parlamentares, governadores e dirigentes partidários no quarto do hotel em que se hospeda em Brasília para convencê-los, mais uma vez, a apoiar Dilma. Lula havia voltado a São Paulo neste sábado (16), após o que acreditou ser um reação do governo, mas ouviu o pedido de Dilma e articuladores petistas para retornar ao bunker que montou no hotel.

Perto dali, no Palácio da Alvorada, Dilma e os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) estão se dividindo em salas para receber os aliados de última hora.

Além de tentar votos contrários ao impeachment, o governo e Lula negociam possíveis abstenções e ausências, que ajudam o governo.

A maior aposta do "varejo final" é com a articulação dos governadores, principalmente do Nordeste.

A ordem de Lula e Dilma é "não fazer alarde" com os nomes dos dissidentes que fecham acordo com o governo, para evitar pressão do comando do partido quando a sigla, por exemplo, é favorável ao afastamento.

Apesar da ofensiva final, assessores de Dilma reconhecem que o quadro está "bastante difícil".

Lula ficará na capital federal depois da votação da Câmara dos Deputados, qualquer que seja o resultado, para definir a estratégia do governo a partir de agora no Senado.

O ex-presidente, que avaliava a hipótese de ir ao ato em favor da presidente no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, considerou mais importante atuar na articulação em Brasília.

BUSCA DE VOTOS

Lula está buscando votos há alguns dias. Na quinta-feira (14), um ministro do Palácio do Planalto informou que a tentativa de marcar uma conversa entre Lula e o bispo Edir Macedo havia falhado.

"Nem o Lula está conseguindo. Não tem mais jeito", sentenciou o auxiliar da presidente Dilma Rousseff, cristalizando o sentimento do governo de que, naquele momento, não era mais possível reverter o quadro na batalha contra o impeachment.

Cansado e bastante apreensivo, o ex-presidente tentava passar confiança aos aliados e afirmava que era hora de centrar esforços nos deputados indecisos e em abstenções e possíveis ausências.

*REVÉS *

Em articulações na madrugada, o vice-presidente Michel Temer conseguiu virar o voto de parlamentares do PP e do PMDB horas antes da votação do impeachment no plenário da Câmara, o que instaurou um clima de pessimismo na equipe da presidente Dilma.

Considerado até sábado como voto certo contra o impeachment, o deputado federal Dudu da Fonte (PP-PE) foi convencido por aliados do vice-presidente a abandonar o Planalto e apoiar o afastamento da petista.

Com a oferta do governo para ele assumir o Ministério da Integração Nacional caso o impeachment fosse barrado, Dudu vinha até sábado (16) capitaneando estratégia favorável à presidente dentro na bancada do partido.

"Nós estamos juntos a favor do impeachment", disse agora Dudu da Fonte à Folha.

Além dele, segundo relatos de parlamentares do partido, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também estaria reconsiderando o apoio à petista.

A promessa feita ao governo era que os dois trariam pelo menos mais quatro votos no PP, além dos deles, contra a saída da presidente.

No PMDB, o vice-presidente conseguiu o apoio de dois parlamentares que se consideravam indecisos: o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Mauro Lopes (MG), e José Priante (PA).

Para o último, a vitória do impeachment "está garantida". Nas contas do grupo de Temer, Dilma deve ter cerca de oito votos no partido, incluindo a abstenção do deputado federal Aníbal Gomes (CE).

DILMA

Nesta semana, Dilma disse que não vai "jogar a toalha" ao se reunir com um grupo de assessores já tomados pelo desânimo e alguns até resignados com uma derrota. Nos últimos dias, o humor da presidente variou segundo a dança dos números do placar da votação que pode encurtar seu segundo mandato e tirá-la do Palácio do Planalto.

Assessores próximos dizem que, apesar da determinação de "lutar até o último minuto", expressão que repetiu várias vezes, a própria Dilma, em alguns momentos desta semana, chegou a admitir que a batalha estava praticamente perdida.


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