Folha de S. Paulo


Novo parlatório em presídio preocupa presos da Operação Lava Jato

A construção de um parlatório com três cabines telefônicas no CMP (Centro Médico Penal), presídio da região metropolitana de Curitiba (PR) que abriga a maior parte dos presos da Lava Jato, incluindo o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, preocupa advogados e detentos da operação.

Inaugurado em 8 de abril, o espaço promete mudar a rotina de encontros entre criminalistas e seus clientes. Até então, as conversas aconteciam em uma sala cuja única separação era feita por meio de uma grade.

Já no parlatório, eles estarão isolados por um vidro. A comunicação passa a ser feita por um interfone, como acontece na Superintendência da Polícia Federal, na capital paranaense.

O principal receio dos presos é em relação à gravação de conversas telefônicas. Três advogados com clientes da Lava Jato no CMP relataram que essa é a maior preocupação dos acusados.

Um deles mencionou uma decisão de 2010, quando um colegiado de juízes, incluindo Sergio Moro, responsável pela operação, autorizou a gravação de conversas de presos com advogados e familiares devido à presença de traficantes no presídio federal de Catanduvas (PR).

Outro ponto controverso é o controle sobre documentos que interessam aos detentos.

Segundo advogados ouvidos pela Folha, no esquema de conversas anterior, os clientes conseguiam analisar documentos, passados por meio das grades. A partir de agora, com a separação sendo feita por um vidro, a operação foi dificultada.

Os presos também acreditam que podem ter o tempo com seus defensores reduzido, já que o número de cabines é pequeno.

O presídio, que já tinha quatro unidades, agora tem ao todo sete para atender a população carcerária, que pode chegar a 750 pessoas quando alcança lotação máxima.

Atualmente, não há um tempo fixado para advogados atenderem seus clientes, mas as conversas duram, em média, 40 minutos, de acordo com os criminalistas.

Já na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, o limite é 30 minutos.

REVIDE

Para criminalistas ouvidos pela Folha, a ação é uma resposta às supostas regalias que presos da operação teriam recebido no local.

Em reportagem publicada em 4 de abril, uma podóloga afirmou ter recebido R$ 2.000 da empreiteira Andrade Gutierrez para atender oito presos da Lava Jato, que também estariam recebendo "alimentação diferenciada" em relação à recebida pelos demais presos.

Segundo a assessoria de imprensa do presídio, o parlatório foi construído para diminuir a fila de advogados. A demanda já existia, mas teria sido acelerada após a ida de réus da operação para o local, fato que intensificou a movimentação dos defensores no CMP.


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