Folha de S. Paulo


Governo faz última ofensiva para tentar barrar impeachment

Renato Costa/Folhapress
Cercados por opositores, deputados contrários ao impeachment estendem faixa na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF)
Deputados contrários ao impeachment estendem faixa na Câmara dos Deputados, em Brasília

Diante do risco cada vez maior de uma derrota no domingo (17), o governo Dilma Rousseff deflagrou uma última ofensiva para tentar barrar o processo de impeachment na Câmara dos Deputados e conseguiu reverter alguns votos a seu favor.

Mas sem garantia segura de vitória, a equipe de Dilma decidiu antecipar articulação para a etapa mais importante do processo, o julgamento final no Senado Federal, e já busca votos de senadores.

A gestão petista reconhece que a situação é crítica, mas diz que a oposição, que afirma ter mais de 375 votos contra a presidente, pode ter uma surpresa.

Um assessor presidencial diz que "o jogo ainda não está jogado" e a presidente Dilma "não jogou a toalha".

Segundo ele, o governo está sem "folga" e pode perder ou ganhar por uma margem que, em sua avaliação, seria pequena, cerca de quatro a cinco votos apenas.

Sob orientação do ex-presidente Lula, a petista passou a sexta (15) em estratégia para tentar recuperar apoios perdidos ou aumentar ausências e abstenções na votação em plenário.

No gabinete presidencial, recebeu parlamentares da Bahia, Maranhão, Amapá, Ceará e Paraíba, levados ao Palácio do Planalto a partir de articulação comandada pelos governadores destes Estados.

Entre eles, esteve com a petista o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), que anunciou que votará contra o impeachment.

Aliado do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o parlamentar maranhense havia declarado anteriormente posição favorável ao afastamento da petista e mudou de lado depois que seu adversário local, o ex-presidente José Sarney, passou a atuar contra Dilma.

À Folha o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), disse que o deputado Waldir Maranhão atendeu a um apelo político pessoal seu. "Ele deve levar uns dez votos do PP para a posição contrária ao impeachment", afirmou Dino, que se encontrou com a presidente.

TEMER/CUNHA

Em reação à ofensiva do governo, a direção do PP decidiu aprovar o fechamento de questão para tentar evitar que deputados pepistas votem com o governo.

O comando do PMDB também decidiu agir para compensar os votos perdidos e passou a buscar votos de deputados ainda considerados indecisos.

Em outros partidos, como PSB e PSD, há movimento para aumentar o número de abstenções e impedir a aprovação da saída de Dilma.

A justificativa para não votar a favor do impeachment seria a de que a alternativa à presidente –o chamado "governo Temer/Cunha", já que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, será o primeiro na linha de sucessão caso Michel Temer assuma a Presidência– seria pior do que a de deixar a petista no comando do país.

Apesar da onda a favor do impeachment, até agora o placar oficial não indicou larga margem de votos contra a presidente, o que deu alento a parlamentares para lançarem esse movimento dentro de suas legendas para tentar reverter algum voto já declarado e mesmo facilitar que "indecisos" como os do PR, por exemplo, pulem para o barco de Temer.

O slogan "nem Dilma nem Cunha" daria a esse grupo justificativa nobre para não optar por nenhum dos dois lados.

Diante da decisão da maioria dos deputados do PSD de votar a favor do impeachment, o principal líder do partido, Gilberto Kassab, pediu demissão do cargo de ministro das Cidades.


Endereço da página: